Comentários
Publicado
no livro Últimos Cantos (1851) durante o período Romântico, Marabá
é Poema integrante da série Poesias Americano. Esse poema tem 11
estrofes e 54 versos, sendo eles 6 quartetos e 5 sextetos.
O
poema segue o esquema de rimas (AA B CC B / D E F E) esse padrão se
repete ao longo do poema. Quanto aos versos, eles são de 11 e 5
silabas poéticas. Nos sextetos os versos variam, podendo ser 11 e 5
sílabas poéticas, nos quartetos há uma predominância de versos
com 11 sílabas poéticas com exceção dos dois últimos quartetos
que apresentam uma alternância entre 11 sílabas com um verso de 5
sílabas. Partindo de uma análise estrutural podemos afirmar que a
predominância de jambos e anapestos indicam a dor, sofrimento e
solidão sentida pela índia Marabá expressa no poema. Uma leitura
mais atenta perceberá que a índia sofre por não ser aceita na
tribo por ser uma índia mestiça. Ainda há uma repetição de
vogais fechadas ao longo de todo o poema /o/ e /u/ que indicam a dor
e a melancolia (Se algum dos guerreiros não foge a meus passos) em
apenas um verso há a repetição das vogais /o/ e /u/ acentuando a
dor e o sofrimento experimentado pelo eu lírico. Neste outro
fragmento (Se ainda me escuta meus agros delírios) a repetição das
vogais /e/ e as vogais fechadas assinalam o lamento expressado pela
índia Marabá. A índia em várias estrofes é descrita para ao
mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua frustração por
não encontrar o amor por ser mestiça.
O
elemento medievalista: A redondilha e o eu-lírico feminino; o
dialogismo e a função do ambiente
O
elemento romântico: A evasão, o delírio, a dor de amar, o elemento
paisagístico, o indianismo, o exotismo.
Eu
/vi/vo/ so/zi/nha/; nin/guém /me /pro/cu/ra!
A/ca/so
/fei/tu/ra
Não/
sou/ de /Tu/pá?
Se
al/gum /den/tre os/ ho/mens/ de /mim /não/ se es/con/de,
— Tu/
és/, /me /res/pon/de,
— Tu
/és /Ma/ra/bá!
Os
versos quanto ao esquema ritmo seguem o seguinte padrão: (Eu VIvo
soZINha; ninGUÉM me proCUra)
A
primeira parte do verso é jambo seguido de um anapésto. O mesmo
acontece com o verso seguinte (ACAso feiTUra) , do mesmo modo a
primeira silaba, fraca seguida de um forte, depois duas fracas
seguidas de uma forte. A leitura em voz alta dos versos ecoa feito um
tambor, efeito garantido pelo acento mais forte que recai na 2°, 6°
e 10° sílabas.Ainda encontramos exemplos de supressão de sílabas
poéticas em vários momentos do poema (Se algum dentre os homens de
mim não se esconde) a primeira sílaba é uma união da primeira
palavra do verso com a primeira sílaba da segunda palavra do verso,
esse fenômeno é chamado de sinaléfa. A crase é outra forma de
supressão de sílaba poética encontrado no poema, ela ocorre quando
a vogal átona final de uma palavra emenda-se com a vogal da palavra
seguinte, mas isso apenas acontece quando as vogais são idênticas,
como no seguinte caso (não se esconde)
O
hipérbato é um recurso bastante empregado na poesia, no caso deste
poema algumas passagens que podemos destacar um exemplo de hipérbato,
ou seja, a inversão sintática da frase (Se algum dentre os homens
de mim não se esconde,), aqui nós podemos perceber que o objeto da
oração não está no final como geralmente acontece.
Eu
vivo sozinha – a constatação hiperbólica, absolutizadora, o
eu-lírico finino se derrama no sentimento de solidão.
Não
sou de tupá – o cristianismo adpatado dentro do Romantismo/ a
imago dei torna todos os homens iguais (relação Quakers >>>
Abolicionismo) (Sincretismo aponta para o modelo Jesuítico
Quinhentista)
Me
responde – o dialogismo será o elemento no qual o discurso de
poema se processará. Ele assume uma dupla identidade
interlocutor/algoz.
Tu
és – A repetição, com ar de reforço identitário – nós somos
a partir do outro. O que, para ela, não é uma revelação de
pertença, mas de alienação e rejeição. A angústia de ser
identificada por algo indefinido.
A
dicotomia ente uma afirmação tônica (és) com um subtantivo não
identitário (marabá) – “um estranho entre os homens”
(Auerbach).
1
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO - Os olhos.
— Meus
/o/lhos/ são /gar/ços/, são/ cor/ das/ sa/fi/ras,
— Têm
/luz /das /es/tre/las,/ têm /me/i/go/ bri/lhar;
— I/mi/tam/
as /nu/vens/ de um/ céu a/ni/la/do,
— As
cores imitam das vagas do mar!
Se
algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus
olhos são garços,
Responde
anojado; "mas és Marabá:
"Quero
antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns
olhos fulgentes,
"Bem
pretos, retintos, não cor d'anajá!"
(Têm
luz das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da
índia é centrado no brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão
belos que são comparados à luz das estrelas através de uma
metáfora.Também há o efeito de ectlipse são neste poema como é o
caso de (Teus olhos são garços) a parte em negrito indica o momento
em que a elisão ocorre, a formação de sílaba /zo/
Neste
outro fragmento assonância do /e/ (Bem pretos, retintos...).
Os
elementos de percepção demonstram o deslocamento identitário pela
falta de lugar entre os homens.
A
idealização amorosa faz com que alma possa ser vista pelos olhos.
A
descrição dos elementos perpassa 3 ambiente: terra, céus(maior e
menor) e mar.
2
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Rosto.
— É
alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da
cor das areias batidas do mar;
— As
aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não
têm mais alvura, não têm mais brilhar. —
Se
ainda me escuta meus agros delírios:
"És
alva de lírios",
Sorrindo
responde; "mas és Marabá:
"Quero
antes um rosto de jambo corado,
"Um
rosto crestado
"Do
sol do deserto, não flor de cajá."
O
poeta também se aproveita do uso de imagens e faz comparação do
rosto da índia Marabá com os lírios (— É alvo meu rosto da
alvura dos lírios,)
A
troca do elemento de comparação adversativa da 4 para 3 fazendo com
que perca força expressiva
delírios
– a percepção da realidade da alienção e o elemento da loucura
que se caracteriza ou negação da realidade.
Sorrindo
– o algoz não mais somente responde, sorri. O elemento sarcástico
se contrapondo à tentativa ou até mesmo o desejo de pertença da
índia.
3
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – A pele.
— Meu
colo de leve se encurva engraçado,
— Como
hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa,
indolente, resvalo no prado,
— Como
um soluçado suspiro de amor! —
"Eu
amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual
duma palmeira,
Então
me responde; "tu és Marabá:
"Quero
antes o colo da ema orgulhosa,
"Que
pisa vaidosa,
"Que
as flóreas campinas governa, onde está."
Outro
exemplo de sinaléfa seria esse fragmento ("Que as flóreas
campinas governa, onde está), a parte em negrito marca onde ocorre a
sinaléfa, ou seja, a formação de um ditongo. (Qual duma palmeira),
a palavra “duma” também é outro recurso poético largamente
usado pelos poetas para garantir o ritmo e a métrica dentro do
poema, esse feito denomina-se etclipse, ou seja, é a supressão de
letras: consoante com vogal, esse efeito é encontrado em vário
outros momentos no poema.
A
ideal romântico é pontuado aqui pela suavidade quase etérea que a
índia revela sobre si mesma.
Ema
– elemento comparativo entre a heroína/musa europeia, notadamente
a camiliana, e a mitopoética brasileira...o índio como forte, puro,
valoroso.
4
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Cabelos.
— Meus
loiros cabelos em ondas se anelam,
— O
oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As
brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De
os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas
eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São
loiros, são belos,
"Mas
são anelados; tu és Marabá:
"Quero
antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos
compridos,
"Não
cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."
(As
brisas nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é
posta em destaque, porque os bosques se enamoram de tanta beleza,
caso de personificação.
A
aliteração do /s/ em vários momentos, tal como podemos constatar
neste fragmento a repetição da consoante sibilante (Mas eles
respondem: “Teus longos cabelos, São loiros, são belos”.).
————
E
as doces palavras que eu tinha cá dentro
A
quem nas direi?
O
ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais
cingirei:
Jamais
um guerreiro da minha arazóia
Me
desprenderá:
Eu
vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que
sou Marabá!
Para
dar mais ênfase ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu
lírico recorre a mistura de sentidos para tentar alcançar a clareza
em transmitir os sentimentos melancólicos, (E as doces palavras que
eu tinha cá dentro/A quem nas direi?)
Conclusão
Podemos
resumir Marabá como um poema sobre:
- Rejeição
- Alienação
- perceber-se categoricamente.
- Sentir-se separado.
- Unicidade
- A maldição do gênio romântico, um estranho em os homens.
- Mme. Bovary c'est moi
- Identidade
- O desejo por alguém que lhe confirme quem é, por também ser assim.
- Cumplicidade
- Katherine e Heathcliff (O morro dos ventos uivantes)
- O monstro (Frankesntein)
- “Hand in Glove”
- “Almas Gêmeas”
- O desespero do elemento adversativo. O elemento adversativo se opõe ao desejo como função realista, relembrando à índia o elemento alienatório.
Nenhum comentário:
Postar um comentário