domingo, 24 de maio de 2015

Marabá - 2 parte e exegese


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Publicado no livro Últimos Cantos (1851) durante o período Romântico, Marabá é Poema integrante da série Poesias Americano. Esse poema tem 11 estrofes e 54 versos, sendo eles 6 quartetos e 5 sextetos.
O poema segue o esquema de rimas (AA B CC B / D E F E) esse padrão se repete ao longo do poema. Quanto aos versos, eles são de 11 e 5 silabas poéticas. Nos sextetos os versos variam, podendo ser 11 e 5 sílabas poéticas, nos quartetos há uma predominância de versos com 11 sílabas poéticas com exceção dos dois últimos quartetos que apresentam uma alternância entre 11 sílabas com um verso de 5 sílabas. Partindo de uma análise estrutural podemos afirmar que a predominância de jambos e anapestos indicam a dor, sofrimento e solidão sentida pela índia Marabá expressa no poema. Uma leitura mais atenta perceberá que a índia sofre por não ser aceita na tribo por ser uma índia mestiça. Ainda há uma repetição de vogais fechadas ao longo de todo o poema /o/ e /u/ que indicam a dor e a melancolia (Se algum dos guerreiros não foge a meus passos) em apenas um verso há a repetição das vogais /o/ e /u/ acentuando a dor e o sofrimento experimentado pelo eu lírico. Neste outro fragmento (Se ainda me escuta meus agros delírios) a repetição das vogais /e/ e as vogais fechadas assinalam o lamento expressado pela índia Marabá. A índia em várias estrofes é descrita para ao mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua frustração por não encontrar o amor por ser mestiça.

O elemento medievalista: A redondilha e o eu-lírico feminino; o dialogismo e a função do ambiente
O elemento romântico: A evasão, o delírio, a dor de amar, o elemento paisagístico, o indianismo, o exotismo.


Eu /vi/vo/ so/zi/nha/; nin/guém /me /pro/cu/ra!
A/ca/so /fei/tu/ra
Não/ sou/ de /Tu/pá?
Se al/gum /den/tre os/ ho/mens/ de /mim /não/ se es/con/de,
Tu/ és/, /me /res/pon/de,
Tu /és /Ma/ra/bá!


Os versos quanto ao esquema ritmo seguem o seguinte padrão: (Eu VIvo soZINha; ninGUÉM me proCUra)
A primeira parte do verso é jambo seguido de um anapésto. O mesmo acontece com o verso seguinte (ACAso feiTUra) , do mesmo modo a primeira silaba, fraca seguida de um forte, depois duas fracas seguidas de uma forte. A leitura em voz alta dos versos ecoa feito um tambor, efeito garantido pelo acento mais forte que recai na 2°, 6° e 10° sílabas.Ainda encontramos exemplos de supressão de sílabas poéticas em vários momentos do poema (Se algum dentre os homens de mim não se esconde) a primeira sílaba é uma união da primeira palavra do verso com a primeira sílaba da segunda palavra do verso, esse fenômeno é chamado de sinaléfa. A crase é outra forma de supressão de sílaba poética encontrado no poema, ela ocorre quando a vogal átona final de uma palavra emenda-se com a vogal da palavra seguinte, mas isso apenas acontece quando as vogais são idênticas, como no seguinte caso (não se esconde)
O hipérbato é um recurso bastante empregado na poesia, no caso deste poema algumas passagens que podemos destacar um exemplo de hipérbato, ou seja, a inversão sintática da frase (Se algum dentre os homens de mim não se esconde,), aqui nós podemos perceber que o objeto da oração não está no final como geralmente acontece.

Eu vivo sozinha – a constatação hiperbólica, absolutizadora, o eu-lírico finino se derrama no sentimento de solidão.
Não sou de tupá – o cristianismo adpatado dentro do Romantismo/ a imago dei torna todos os homens iguais (relação Quakers >>> Abolicionismo) (Sincretismo aponta para o modelo Jesuítico Quinhentista)
Me responde – o dialogismo será o elemento no qual o discurso de poema se processará. Ele assume uma dupla identidade interlocutor/algoz.
Tu és – A repetição, com ar de reforço identitário – nós somos a partir do outro. O que, para ela, não é uma revelação de pertença, mas de alienação e rejeição. A angústia de ser identificada por algo indefinido.
A dicotomia ente uma afirmação tônica (és) com um subtantivo não identitário (marabá) – “um estranho entre os homens” (Auerbach).


1 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO - Os olhos.


Meus /o/lhos/ são /gar/ços/, são/ cor/ das/ sa/fi/ras,
Têm /luz /das /es/tre/las,/ têm /me/i/go/ bri/lhar;
I/mi/tam/ as /nu/vens/ de um/ céu a/ni/la/do,
As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

(Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da índia é centrado no brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão belos que são comparados à luz das estrelas através de uma metáfora.Também há o efeito de ectlipse são neste poema como é o caso de (Teus olhos são garços) a parte em negrito indica o momento em que a elisão ocorre, a formação de sílaba /zo/
Neste outro fragmento assonância do /e/ (Bem pretos, retintos...).

Os elementos de percepção demonstram o deslocamento identitário pela falta de lugar entre os homens.
A idealização amorosa faz com que alma possa ser vista pelos olhos.
A descrição dos elementos perpassa 3 ambiente: terra, céus(maior e menor) e mar.

2 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Rosto.

É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
Da cor das areias batidas do mar;
As aves mais brancas, as conchas mais puras
Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. —

Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."

O poeta também se aproveita do uso de imagens e faz comparação do rosto da índia Marabá com os lírios (— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,)
A troca do elemento de comparação adversativa da 4 para 3 fazendo com que perca força expressiva
delírios – a percepção da realidade da alienção e o elemento da loucura que se caracteriza ou negação da realidade.
Sorrindo – o algoz não mais somente responde, sorri. O elemento sarcástico se contrapondo à tentativa ou até mesmo o desejo de pertença da índia.


3 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – A pele.

Meu colo de leve se encurva engraçado,
Como hástea pendente do cáctus em flor;
Mimosa, indolente, resvalo no prado,
Como um soluçado suspiro de amor! —

"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."

Outro exemplo de sinaléfa seria esse fragmento ("Que as flóreas campinas governa, onde está), a parte em negrito marca onde ocorre a sinaléfa, ou seja, a formação de um ditongo. (Qual duma palmeira), a palavra “duma” também é outro recurso poético largamente usado pelos poetas para garantir o ritmo e a métrica dentro do poema, esse feito denomina-se etclipse, ou seja, é a supressão de letras: consoante com vogal, esse efeito é encontrado em vário outros momentos no poema.
A ideal romântico é pontuado aqui pela suavidade quase etérea que a índia revela sobre si mesma.
Ema – elemento comparativo entre a heroína/musa europeia, notadamente a camiliana, e a mitopoética brasileira...o índio como forte, puro, valoroso.



4 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Cabelos.

Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
O oiro mais puro não tem seu fulgor;
As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."

(As brisas nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é posta em destaque, porque os bosques se enamoram de tanta beleza, caso de personificação.
A aliteração do /s/ em vários momentos, tal como podemos constatar neste fragmento a repetição da consoante sibilante (Mas eles respondem: “Teus longos cabelos, São loiros, são belos”.).

————

E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!

Para dar mais ênfase ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu lírico recorre a mistura de sentidos para tentar alcançar a clareza em transmitir os sentimentos melancólicos, (E as doces palavras que eu tinha cá dentro/A quem nas direi?)


Conclusão

Podemos resumir Marabá como um poema sobre:

  • Rejeição
  • Alienação
    • perceber-se categoricamente.
    • Sentir-se separado.
  • Unicidade
    • A maldição do gênio romântico, um estranho em os homens.
    • Mme. Bovary c'est moi
  • Identidade
    • O desejo por alguém que lhe confirme quem é, por também ser assim.
      • Cumplicidade
        • Katherine e Heathcliff (O morro dos ventos uivantes)
        • O monstro (Frankesntein)
        • Hand in Glove”
        • Almas Gêmeas”
    • O desespero do elemento adversativo. O elemento adversativo se opõe ao desejo como função realista, relembrando à índia o elemento alienatório.

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