sexta-feira, 29 de maio de 2015
Sobre o fingimento Árcade
Esse texto aqui faz parte de algo que aprecio muito: o uso dos canais modernos, como o Whatsapp para podermos tirar dúvidas e nos aproximarmos de algo que possa ajudar a todos.
Sobre o fingimento árcade
O fingimento árcade era uma espécie de fingimento poético que se manifestava por meio de algumas características:
O pastoralismo
O pastoralismo árcade era artificial, na medida em que os árcades se imaginavam parte de uma irmandade de "pastores" (as Arcádias). Era um artificialismo já que, na verdade, o poeta árcade era um homem urbano.
Bocage
O Sentimentalismo (Convencionalismo amoroso)
O Sentimentalismo árcade era artificial na medida em que era moldado pelo Racionalismo, sendo a meta o "Convencionalismo Amoroso", ou seja, a objetivação da relação entre ele e a amada através do uso de pseudônimos, isso os protegeria dos arroubos que são elementos de uma paixão, já que não era ela que estava a escrever, mas sim o pseudônimo à amada - que também é um personagem. (ex: Não era Tomás A. Gonzaga que estava a escrever à Maria Dorotheia, mas era Dirceu que escrevera à Marília)
O amor idílico do árcade
O Normalismo
Talvez o mais difícil de todos os artificialismo tenha sido o Normalismo, que requeria uma estrutura ao texto poético, o que fazia com que o poeta árcade fosse um liberal em sua política (inconfidente e apoiador das Revoluções Liberais) e um reacionário em sua poesia, situação que não iria durar muito, pois o Liberalismo na política iria requerer o Liberalismo na forma, que viria por meio do Romantismo.
Inconfidência Mineira
quarta-feira, 27 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Marabá - 2 parte e exegese
Comentários
Publicado
no livro Últimos Cantos (1851) durante o período Romântico, Marabá
é Poema integrante da série Poesias Americano. Esse poema tem 11
estrofes e 54 versos, sendo eles 6 quartetos e 5 sextetos.
O
poema segue o esquema de rimas (AA B CC B / D E F E) esse padrão se
repete ao longo do poema. Quanto aos versos, eles são de 11 e 5
silabas poéticas. Nos sextetos os versos variam, podendo ser 11 e 5
sílabas poéticas, nos quartetos há uma predominância de versos
com 11 sílabas poéticas com exceção dos dois últimos quartetos
que apresentam uma alternância entre 11 sílabas com um verso de 5
sílabas. Partindo de uma análise estrutural podemos afirmar que a
predominância de jambos e anapestos indicam a dor, sofrimento e
solidão sentida pela índia Marabá expressa no poema. Uma leitura
mais atenta perceberá que a índia sofre por não ser aceita na
tribo por ser uma índia mestiça. Ainda há uma repetição de
vogais fechadas ao longo de todo o poema /o/ e /u/ que indicam a dor
e a melancolia (Se algum dos guerreiros não foge a meus passos) em
apenas um verso há a repetição das vogais /o/ e /u/ acentuando a
dor e o sofrimento experimentado pelo eu lírico. Neste outro
fragmento (Se ainda me escuta meus agros delírios) a repetição das
vogais /e/ e as vogais fechadas assinalam o lamento expressado pela
índia Marabá. A índia em várias estrofes é descrita para ao
mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua frustração por
não encontrar o amor por ser mestiça.
O
elemento medievalista: A redondilha e o eu-lírico feminino; o
dialogismo e a função do ambiente
O
elemento romântico: A evasão, o delírio, a dor de amar, o elemento
paisagístico, o indianismo, o exotismo.
Eu
/vi/vo/ so/zi/nha/; nin/guém /me /pro/cu/ra!
A/ca/so
/fei/tu/ra
Não/
sou/ de /Tu/pá?
Se
al/gum /den/tre os/ ho/mens/ de /mim /não/ se es/con/de,
— Tu/
és/, /me /res/pon/de,
— Tu
/és /Ma/ra/bá!
Os
versos quanto ao esquema ritmo seguem o seguinte padrão: (Eu VIvo
soZINha; ninGUÉM me proCUra)
A
primeira parte do verso é jambo seguido de um anapésto. O mesmo
acontece com o verso seguinte (ACAso feiTUra) , do mesmo modo a
primeira silaba, fraca seguida de um forte, depois duas fracas
seguidas de uma forte. A leitura em voz alta dos versos ecoa feito um
tambor, efeito garantido pelo acento mais forte que recai na 2°, 6°
e 10° sílabas.Ainda encontramos exemplos de supressão de sílabas
poéticas em vários momentos do poema (Se algum dentre os homens de
mim não se esconde) a primeira sílaba é uma união da primeira
palavra do verso com a primeira sílaba da segunda palavra do verso,
esse fenômeno é chamado de sinaléfa. A crase é outra forma de
supressão de sílaba poética encontrado no poema, ela ocorre quando
a vogal átona final de uma palavra emenda-se com a vogal da palavra
seguinte, mas isso apenas acontece quando as vogais são idênticas,
como no seguinte caso (não se esconde)
O
hipérbato é um recurso bastante empregado na poesia, no caso deste
poema algumas passagens que podemos destacar um exemplo de hipérbato,
ou seja, a inversão sintática da frase (Se algum dentre os homens
de mim não se esconde,), aqui nós podemos perceber que o objeto da
oração não está no final como geralmente acontece.
Eu
vivo sozinha – a constatação hiperbólica, absolutizadora, o
eu-lírico finino se derrama no sentimento de solidão.
Não
sou de tupá – o cristianismo adpatado dentro do Romantismo/ a
imago dei torna todos os homens iguais (relação Quakers >>>
Abolicionismo) (Sincretismo aponta para o modelo Jesuítico
Quinhentista)
Me
responde – o dialogismo será o elemento no qual o discurso de
poema se processará. Ele assume uma dupla identidade
interlocutor/algoz.
Tu
és – A repetição, com ar de reforço identitário – nós somos
a partir do outro. O que, para ela, não é uma revelação de
pertença, mas de alienação e rejeição. A angústia de ser
identificada por algo indefinido.
A
dicotomia ente uma afirmação tônica (és) com um subtantivo não
identitário (marabá) – “um estranho entre os homens”
(Auerbach).
1
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO - Os olhos.
— Meus
/o/lhos/ são /gar/ços/, são/ cor/ das/ sa/fi/ras,
— Têm
/luz /das /es/tre/las,/ têm /me/i/go/ bri/lhar;
— I/mi/tam/
as /nu/vens/ de um/ céu a/ni/la/do,
— As
cores imitam das vagas do mar!
Se
algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus
olhos são garços,
Responde
anojado; "mas és Marabá:
"Quero
antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns
olhos fulgentes,
"Bem
pretos, retintos, não cor d'anajá!"
(Têm
luz das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da
índia é centrado no brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão
belos que são comparados à luz das estrelas através de uma
metáfora.Também há o efeito de ectlipse são neste poema como é o
caso de (Teus olhos são garços) a parte em negrito indica o momento
em que a elisão ocorre, a formação de sílaba /zo/
Neste
outro fragmento assonância do /e/ (Bem pretos, retintos...).
Os
elementos de percepção demonstram o deslocamento identitário pela
falta de lugar entre os homens.
A
idealização amorosa faz com que alma possa ser vista pelos olhos.
A
descrição dos elementos perpassa 3 ambiente: terra, céus(maior e
menor) e mar.
2
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Rosto.
— É
alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da
cor das areias batidas do mar;
— As
aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não
têm mais alvura, não têm mais brilhar. —
Se
ainda me escuta meus agros delírios:
"És
alva de lírios",
Sorrindo
responde; "mas és Marabá:
"Quero
antes um rosto de jambo corado,
"Um
rosto crestado
"Do
sol do deserto, não flor de cajá."
O
poeta também se aproveita do uso de imagens e faz comparação do
rosto da índia Marabá com os lírios (— É alvo meu rosto da
alvura dos lírios,)
A
troca do elemento de comparação adversativa da 4 para 3 fazendo com
que perca força expressiva
delírios
– a percepção da realidade da alienção e o elemento da loucura
que se caracteriza ou negação da realidade.
Sorrindo
– o algoz não mais somente responde, sorri. O elemento sarcástico
se contrapondo à tentativa ou até mesmo o desejo de pertença da
índia.
3
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – A pele.
— Meu
colo de leve se encurva engraçado,
— Como
hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa,
indolente, resvalo no prado,
— Como
um soluçado suspiro de amor! —
"Eu
amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual
duma palmeira,
Então
me responde; "tu és Marabá:
"Quero
antes o colo da ema orgulhosa,
"Que
pisa vaidosa,
"Que
as flóreas campinas governa, onde está."
Outro
exemplo de sinaléfa seria esse fragmento ("Que as flóreas
campinas governa, onde está), a parte em negrito marca onde ocorre a
sinaléfa, ou seja, a formação de um ditongo. (Qual duma palmeira),
a palavra “duma” também é outro recurso poético largamente
usado pelos poetas para garantir o ritmo e a métrica dentro do
poema, esse feito denomina-se etclipse, ou seja, é a supressão de
letras: consoante com vogal, esse efeito é encontrado em vário
outros momentos no poema.
A
ideal romântico é pontuado aqui pela suavidade quase etérea que a
índia revela sobre si mesma.
Ema
– elemento comparativo entre a heroína/musa europeia, notadamente
a camiliana, e a mitopoética brasileira...o índio como forte, puro,
valoroso.
4
ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Cabelos.
— Meus
loiros cabelos em ondas se anelam,
— O
oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As
brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De
os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas
eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São
loiros, são belos,
"Mas
são anelados; tu és Marabá:
"Quero
antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos
compridos,
"Não
cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."
(As
brisas nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é
posta em destaque, porque os bosques se enamoram de tanta beleza,
caso de personificação.
A
aliteração do /s/ em vários momentos, tal como podemos constatar
neste fragmento a repetição da consoante sibilante (Mas eles
respondem: “Teus longos cabelos, São loiros, são belos”.).
————
E
as doces palavras que eu tinha cá dentro
A
quem nas direi?
O
ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais
cingirei:
Jamais
um guerreiro da minha arazóia
Me
desprenderá:
Eu
vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que
sou Marabá!
Para
dar mais ênfase ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu
lírico recorre a mistura de sentidos para tentar alcançar a clareza
em transmitir os sentimentos melancólicos, (E as doces palavras que
eu tinha cá dentro/A quem nas direi?)
Conclusão
Podemos
resumir Marabá como um poema sobre:
- Rejeição
- Alienação
- perceber-se categoricamente.
- Sentir-se separado.
- Unicidade
- A maldição do gênio romântico, um estranho em os homens.
- Mme. Bovary c'est moi
- Identidade
- O desejo por alguém que lhe confirme quem é, por também ser assim.
- Cumplicidade
- Katherine e Heathcliff (O morro dos ventos uivantes)
- O monstro (Frankesntein)
- “Hand in Glove”
- “Almas Gêmeas”
- O desespero do elemento adversativo. O elemento adversativo se opõe ao desejo como função realista, relembrando à índia o elemento alienatório.
Marabá - 1 parte
Cumprimentos
Agradeço
à oportunidade dada pela Casa de Cultura, para essa pequena análise
de nosso bardo caixense. Se interessar a alguém. Disponibilizarei os
textos lidos aqui e a análise em meu twitter & blog professoral
(@aulasetextos e http://aulasetextos.com
).
Considerações
Por
que se estudar Gonçalves Dias?
Marabá
Mme.
Bovary c'est moi
Essa
origem mestiça causou grande frustração na sua vida impedindo-o de
se casar com Ana Amélia e que aparentemente o poeta jamais se
recuperaria desse evento. A frustração experimentada por essa índia
também é a mesma frustração experimentada pelo próprio poeta que
é impedido do amor verdadeiro por sua origem mestiça.
Contexto
SERA,
Tânia. Indianismo:
Evasão E Participação No Romantismo Brasileiro in
http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3731/6/ARTIGO_IndianismoEvasaoParticipacao.pdf
<acesso em 20/05/2015>
Para
podermos compreender o fenômeno literário do Indianismo, é
necessário voltarmos alguns séculos para trás na História
e vir mapeando o desenvolvimento dessa corrente do primeiro
Romantismo brasileiro, a fim de podermos verificar sua
identidade profunda com o nacionalismo que ocorreu nas
primeiras décadas de nossa Independência e que não pode ser
eliminado de uma análise sobre aquele período. E necessário,
também, termos em mente que há duas correntes de influência
paralelas nesse correr dos séculos, a saber: a literatura
colonial do tipo exótico-ufanista, principalmente os poemas épicos
do Barroco brasileiro (juntamente com sua prima próxima, a
literatura de viagem),e a noção filosófica do ameríndio
como um Adão em estado de pré-queda, espécie de embasamento
teórico para o Americanismo que vai eclodir na França do começo
do século XIX. Do ponto de vist a político, encontra-se aí
uma enorme efervescência em seguida à Revolução Francesa,
conforme já disse Carpeaux. É a época do liberalismo, tanto
político quanto social, e até mesmo literário: "O
Romantismo ... é o ... 'liberalismo em literatura'", diz Victor
Hugo em seu prefácio a Hernani. É também, e sobretudo, a
época em que camadas sociais antes reprimidas aspiram a uma faixa
de poder. A burguesia luta por um lugar ao sol, e a ideologia dessa
atitude vai refletir-se no movimento romântico. É essa mesma
burguesia que, durante o Renascimento e as grandes descobertas,
vai colocar seu olhar "civilizado" sobre os bárbaros das
Américas e elegê-los como o ponto de partida para um
neobucolismo necessário à nova ideologia financeiramente
interessada de uma Europa em rápido processo de urbanização,
que irá desembocar na Revolução Industrial e na Revolução
Francesa do Século XVIII.Montaigne, Rousseau e Chateaubriand,
cada qual com sua visão particular, forjam o arquétipo
do novo Adão paradisíaco, a saber, o índio americano; o bon
sauvage. O Americanismo de Chateaubriand — e mais tarde o de
Cooper — chega-nos num momento em que o olhar dos
viajantes mercantilistas já havia registrado o exotismo do
ameríndio, a exuberância da natureza tropical, a virgindade
e a extensão das terras brasílicas. Nossa épica barroca
está cheia de exemplos do ufanismo com que a terra e a
gente eram visualizadas pelos poetas. Desde Anchieta já se
pode falar de uma visão nativista, ou melhor, indigenista do
nosso índio. Por esse caminho seguem Santa Rita Durão, com seu
Caramuru, ou Basílio da Gama n'0 Uraguai, e até mesmo
Sebastião da Rocha Pita na prosa de seu barroquíssimo A
História da América Portuguesa.
Fazendo
com que as correntes paralelas que influenciaram
nosso Indianismo se encontrem, o francês Ferdinand Denis, primeiro
em 1824, depois em 182ó, publica livros em que fala de uma
literatura brasileira. O Resumo da História Literária do Brasil
(de 1826) é o primeiro documento de história literária
mencionando não só uma literatura nossa, como sugerindo que
ela poderia ser muito mais viçosa se seguisse o caminho indianista,
agora que o país conseguiu uma situação ideal, pois desde 1822 se
havia libertado de Portugal. O que vemos acontecer, nessa
primeira metade do século XIX, é uma tentativa sistemática
de erigir essa independência sobre bases
sólidas, isto é, autenticamente nacionais. O nacionalismo
será, então, o que dará o tom a todas as manifestações
político-culturais no país; "a literatura romântica foi
arma de ação política e social desde a independência"
(Coutinho, 1976: 169). É também o momento em que vários
países da Europa se estão formando como nação,
onde
antes havia ducados e principados separados, como a Itália e a
Alemanha, por exemplo. No Novo Mundo, é quando começam as guerras
de Independência, inspiradas na dos Estados Unidos da América no
final do século XVIII.Esse sentimento também chega ao Brasil.
É preciso, portanto, "fundar" urgentemente uma
literatura brasileira, não mais referida por estrangeiros, mas
por filhos da nova terra independente. Se, no entanto, desde a
época do Brasil colônia tivemos cantos celebrando as belezas
e excelências da terra, estes são mais manifestações
nativistas do que nacionalistas.
O
terreno estando semeado pelas duas correntes — o exotismo ufanista,
que possibilita o mito da terra propícia à literatura, e
o arquétipo do bon sauvage, que vai desembocar no paradigma do
homem perfeito -, elas acabam tocando-se e misturando-se no começo
do Primeiro Reinado. Agora, só nos falta uma ideologia própria
que, separando-se das matrizes européias, alcance
vôo-solo. Essa manifestação de nacionalismo literário - o
nosso Indianismo, que vai, grosso modo, de 1840 a 1860 -
foi ideologicamente legitimada por Domingos José Gonçalves de
Magalhães no seu interessantíssimo e curioso "Discurso
sobre a Literatura do Brasil", publicado na revista
Niterói, em Paris (!), no ano de 1836, e que pode ser
considerado nosso primeiro manifesto romântico. Nesse ensaio,
que deveria servir de introdução a uma história da
literatura brasileira, que nunca veio à luz, o futuro Visconde de
Araguaia lança as cinco premissas que permitirão ao
jovem país criar um fundamento "iítero-ideológico"
que lhe possibilitaria executar um programa inovador de
cultura, não mais luso, mas euro-brasileiro. Um pouco o que
Oswald de Andrade, quase um século depois, vai realizar no nosso
Modernismo.
Nosso
Indianismo vem, então, preencher requisitos do exotismo e
do nacionalismo literários. Segundo Nelson Werneck Sodré,
o fenômeno da idealização do índio, uma das características
fundamentais daquela corrente do Romantismo brasileiro como
manifestação literária, sobretudo na poesia, também existe desde
o século XVI. Nos capítulos em que trata de Indianismo, na sua
ainda bastante pertinente História da Li-teratura Brasileira,
o historiador traça a trajetória da mitificação do
aborígene na sociedade branca ocidental até o Século das
Luzes, quando aparece a idéia do bon sauvage de Rousseau,
seguindo-se a literatura americanista de evasão baseada nos heróis
ameríndios de Chateau-briand, como já foi dito anteriormente.
José
de Alencar, na prosa de ficção, e Gonçalves Dias, na poesia, são
os dois maiores representantes do Indianismo. São os Primeiros
Cantos, publicados em 1847, que vão popularizar de vez a tendência
que outros poetas menores já manipulavam.
O
vate maranhense é considerado até hoje como "o poeta
nacional" (Martins, 1978: 348). Faz parte do que se
convencionou chamar de a Primeira Geração Romântica, ainda com
fortes influências da forma clássica, mas já com uma temática
que reflete o país a emergir da sombra de Portugal. É
ele quem começa oficialmente o Indianismo no Brasil, com a
publicação da obra acima mencionada. Toda uma primeira parte é
chamada de "Poesias Americanas", e o poeta vai conhecer
enorme sucesso, entrando para o círculo restrito dos jovens
escritores que freqüentavam o exclusivo Paço Imperial,
como o próprio Gonçalves de Magalhães e Joaquim de
Macedo, por exemplo. O Imperador Pedro II vai até mesmo
pedir-lhe que faça alguns estudos etnográficos, a partir
do
recém-fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
de 1838 -, que resultam, por exemplo, na monografia "Brasil e
Oceania", de 1856, curiosíssimo trabalho em que Gonçalves Dias
compara os índios brasileiros e os aborígenes australianos,
chegando à conclusão de que os nossos são
infinitamente "melhores" que os outros, por sua docilidade
e pela facilidade com que deixam os hábitos pagãos. Esse interesse
pela etnografia é muito sintomático, pois mostra a enorme
curiosidade despertada pela população indígena e seus costumes,
embora, nessa época, o genocídio das populações
autóctones americanas já estivesse praticamente consumado.
Mas é a partir desses dados colhidos que se vai poder criar uma
idealização do homem-índio-Adão primitivo, padrão de homem
honrado e valente que pode ser, então, comparado ao
cavaleiro medieval: "O indianismo de Gonçalves Dias ...
é parente do medievismo coimbrão ... As Sextilhas de Frei
Antáo ... [e] "O Trovador" (poemas medievistas),
poder-se-iam considerar pares simétricos d'Os Timbiras, do
"I-Juca-Pirama", ... pela redução do índio aos padrões
da Cavalaria" (Cândido, 1975: 84).
Esse
novo herói será extremamente popular, fornecendo — para o público
fluminense e o das províncias o caldo de nacionalidade
necessária para unir a grande euforia cívica que se segue
à Independência sobretudo no Segundo Reinado, o acréscimo de
algo genuinamente nacional: uma identidade cultural brasileira.
Composição
Gonçalves
Dias (Antônio G. D.), poeta, professor, crítico de história,
etnólogo, nasceu em Caxias, MA, em 10 de agosto de 1823, e faleceu
em naufrágio, no baixio dos Atins, MA, em 3 de novembro de 1864. É
o patrono da Cadeira n. 15, por escolha do fundador Olavo Bilac.
Era
filho de João Manuel Gonçalves Dias, comerciante português,
natural de Trás-os-Montes, e de Vicência Ferreira, mestiça.
Perseguido pelas exaltações nativistas, o pai refugiara-se com a
companheira perto de Caxias, onde nasceu o futuro poeta. Casado em
1825 com outra mulher, o pai levou-o consigo, deu-lhe instrução e
trabalho e matriculou-o no curso de latim, francês e filosofia do
prof. Ricardo Leão Sabino. Em 1838 Gonçalves Dias embarcaria para
Portugal, para prosseguir nos estudos, quando faleceu-lhe o pai. Com
a ajuda da madrasta pôde viajar e matricular-se no curso de Direito
em Coimbra. A situação financeira da família tornou-se difícil em
Caxias, por efeito da Balaiada, e a madrasta pediu-lhe que voltasse,
mas ele prosseguiu nos estudos graças ao auxílio de colegas,
formando-se em 1845. Em Coimbra, ligou-se Gonçalves Dias ao grupo
dos poetas que Fidelino de Figueiredo chamou de “medievalistas”.
À influência dos portugueses virá juntar-se a dos românticos
franceses, ingleses, espanhóis e alemães. Em 1843 surge a “Canção
do exílio”, um das mais conhecidas poesias da língua portuguesa.
Regressando
ao Brasil em 1845, passou rapidamente pelo Maranhão e, em meados de
1846, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde morou até 1854,
fazendo apenas uma rápida viagem ao norte em 1851. Em 46, havia
composto o drama Leonor de Mendonça, que o Conservatório do Rio de
Janeiro impediu de representar a pretexto de ser incorreto na
linguagem; em 47 saíram os Primeiros cantos, com as “Poesias
americanas”, que mereceram artigo encomiástico de Alexandre
Herculano; no ano seguinte, publicou os Segundos cantos e, para
vingar-se dos seus gratuitos censores, conforme registram os
historiadores, escreveu as Sextilhas de frei Antão, em que a
intenção aparente de demonstrar conhecimento da língua o levou a
escrever um “ensaio filológico”, num poema escrito em idioma
misto de todas as épocas por que passara a língua portuguesa até
então. Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do
Colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara, com Macedo e Porto
Alegre. Em 51, publicou os Últimos cantos, encerrando a fase mais
importante de sua poesia.
A
melhor parte da lírica dos Cantos inspira-se ora da natureza, ora da
religião, mas sobretudo de seu caráter e temperamento. Sua poesia é
eminentemente autobiográfica. A consciência da inferioridade de
origem, a saúde precária, tudo lhe era motivo de tristezas. Foram
elas atribuídas ao infortúnio amoroso pelos críticos, esquecidos
estes de que a grande paixão do Poeta ocorreu depois da publicação
dos Últimos cantos. Em 1851, partiu Gonçalves Dias para o Norte em
missão oficial e no intuito de desposar Ana Amélia Ferreira do
Vale, de 14 anos, o grande amor de sua vida, cuja mãe não concordou
por motivos de sua origem bastarda e mestiça. Frustrado, casou-se no
Rio, em 1852, com Olímpia Carolina da Costa. Foi um casamento de
conveniência, origem de grandes desventuras para o Poeta, devidas ao
gênio da esposa, da qual se separou em 1856. Tiveram uma filha,
falecida na primeira infância.
Nomeado
para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de
1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Em 56, viajou
para a Alemanha e, na passagem por Leipzig, em 57, o livreiro-editor
Brockhaus editou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os
Timbiras, compostos dez anos antes, e o Dicionário da língua tupi.
Voltou ao Brasil e, em 1861 e 62, viajou pelo Norte, pelos rios
Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de Exploração.
Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo logo para a Europa, em
tratamento de saúde, bastante abalada, e buscando estações de cura
em várias cidades européias. Em 25 de outubro de 63, embarcou em
Bordéus para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de
Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações de cura
em Aix-les-Bains, Allevard e Ems. Em 10 de setembro de 1864, embarcou
para o Brasil no Havre no navio Ville de Boulogne, que naufragou, no
baixio de Atins, nas costas do Maranhão, tendo o poeta perecido no
camarote, sendo a única vítima do desastre, aos 41 anos de idade.
Todas
as suas obras literárias, compreendendo os Cantos, as Sextilhas, a
Meditação e as peças de teatro (Patkul, Beatriz Cenci e Leonor de
Mendonça), foram escritas até 1854, de maneira que, seguindo Sílvio
Romero, se tivesse desaparecido naquele ano, aos 31 anos, “teríamos
o nosso Gonçalves Dias completo”. O período final, em que dominam
os pendores eruditos, favorecidos pelas comissões oficiais e as
viagens à Europa, compreende o Dicionário da língua tupi, os
relatórios científicos, as traduções do alemão, a epopéia Os
Timbiras, cujos trechos iniciais, que são os melhores, datam do
período anterior.
Sua
obra poética, lírica ou épica, enquadrou-se na temática
“americana”, isto é, de incorporação dos assuntos e paisagens
brasileiros na literatura nacional, fazendo-a voltar-se para a terra
natal, marcando assim a nossa independência em relação a Portugal.
Ao lado da natureza local, recorreu aos temas em torno do indígena,
o homem americano primitivo, tomado como o protótipo de brasileiro,
desenvolvendo, com José de Alencar na ficção, o movimento do
“Indianismo”. Os indígenas, com suas lendas e mitos, seus dramas
e conflitos, suas lutas e amores, sua fusão com o branco,
ofereceram-lhe um mundo rico de significação simbólica. Embora não
tenha sido o primeiro a buscar na temática indígena recursos para o
abrasileiramento da literatura, Gonçalves Dias foi o que mais alto
elevou o Indianismo. A obra indianista está contida nas “Poesias
americanas” dos Primeiros cantos, nos Segundos cantos e Últimos
cantos, sobretudo nos poemas “Marabá”, “Leito de folhas
verdes”, “Canto do piaga”, “Canto do tamoio”, “Canto do
guerreiro” e “I-Juca-Pirama”, este talvez o ponto mais alto da
poesia indianista. É uma das obras-primas da poesia brasileira,
graças ao conteúdo emocional e lírico, à força dramática, ao
argumento, à linguagem, ao ritmo rico e variado, aos múltiplos
sentimentos, à fusão do poético, do sublime, do narrativo, do
diálogo, culminando na grandeza da maldição do pai ao filho que
chorou na presença da morte.
Pela
obra lírica e indianista, Gonçalves Dias é um dos mais típicos
representantes do Romantismo brasileiro e forma com José de Alencar
na prosa a dupla que conferiu caráter nacional à literatura
brasileira.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
5 Questões das Escolas do Barroco ao Realismo
“Já
aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar
de poesia romântica dessa geração sem falar no baiano Castro
Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da
forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro
retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para
jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as
idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor. Castro
Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo
à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive
prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.”
1.
Essa afirmação, que se mostra diversa daquilo que imaginamos sobre
o idealismo Romântico é verdadeira, e corresponde a mudança que se
apercebe:
a)
Na poesia Indianista
b)
Na prosa Urbana
c)
Na 3 Geração poética
d)
Na 1 Geração Poética
e)
No Romantismo baiano
2.
Essa mudança de perspectiva serve para já vislumbrar o que viria
após o Romantismo, o Realismo, no qual a figura da mulher será:
a)
Idealizada
b)
Sentimentalizada
c)
Erotizada
d)
Contabilizada
e)
Mistificada
3.
(Ufsc) - Considere as afirmativas sobre Barroco e o Arcadismo:
1.
Simplificação da língua literária – ordem direta – imitação
dos antigos gregos e romanos.
2.
Valorização dos sentidos – imaginação exaltada – emprego dos
vocábulos raros.
3.
Vida campestre idealizada como verdadeiro estado de
poesia-clareza-harmonia.
4.
Emprego freqüente de trocadilhos e de perífrases – malabarismos
verbais – oratória.
5.
Sugestões de luz, cor e som – antítese entre a vida e a morte –
espírito cristão antiterreno.
Assinale
a opção que só contém afirmativas sobre o Arcadismo:
a)
1, 4 e 5
b)
2, 3 e 5
c)
2, 4 e 5
d)
1 e 3
e)
1, 2 e 5
(Santa
Casa SP) - Texto I
“É
a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa,
que da manhã lisonjeada,
Púrpuras
mil, com ambição dourada,
Airosa
rompe, arrasta presumida.”
Texto
II
“Depois
que nos ferir a mão da morte,
ou
seja neste monte, ou noutra serra,
nossos
corpos terão, terão a sorte
de
consumir os dous a mesma terra.”
4. O
texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é
possível afirmar que os árcades optaram por uma expressão:
a)
impessoal e, portanto, diferenciada do sentimentalismo barroco, em
que o mundo exterior era projeção do caos interior do poeta.
b)
despojada das ousadias sintáticas da estética anterior, com
predomínio da ordem direta e de vocábulos de uso corrente.
c)
que aprofunda o naturalismo da expressão barroca, fazendo que o
poeta assuma posição eminentemente impessoal.
d)
em que predominam, diferentemente do Barroco, a antítese, a
hipérbole, a conotação poderosa.
e)
em que a quantidade de metáforas e de torneios de linguagem supera a
tendência denotativa do Barroco.
As
opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.
(Não
é obrigatório que todos os autores estejam nas alternativas. 2
textos podem pertencer ao mesmo autor)
Texto
"A" ( )
"Ah!
enquanto os destinos impiedosos
não
voltam contra nós a face irada,
façamos,
sim, façamos, doce amada,
os
nossos breves dias mais ditosos."
Texto
"B" ( )
"Ó
não aguardes, que a madura idade
te
converte essa flor, essa beleza,
em
terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",
Texto
"C" ( )
"Nos
olhos Caitutu não sofre o pranto,
E
rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo
na testa da fronteira gruta
De
sua mão já trêmula gravado
O
alheio crime e a voluntária morte".
Texto
"D" ( )
"O
todo sem a parte não é todo;
A
parte sem o todo não é parte;
Mas
se a parte faz o todo, sendo parte,
Não
se diga que é parte, sendo todo.
Preencha
os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte
convenção:
I)
Gregório de Matos
II)
Tomás Antônio Gonzaga
III)
Basílio da Gama
IV)
Cláudio Manuel da Costa
5.
Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:
a)
II - I - III - I
b)
IV - I - II - II
c) I
- II - II - I
d) I
- IV - III - I
e)
II - IV - III - IV
Gabarito:
1 - C
2 - D
3 - D
4 - B
5 - A
domingo, 17 de maio de 2015
5 questões em Romantismo e Arcadismo
QUESTÕES
“Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica dessa geração sem falar no baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor. Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.”
1. Essa afirmação, que se mostra diversa daquilo que imaginamos sobre o idealismo Romântico é verdadeira, e corresponde a mudança que se apercebe:
a) Na poesia Indianista
b) Na prosa Urbana
c) Na 3 Geração poética
d) Na 1 Geração Poética
e) No Romantismo baiano
2. Essa mudança de perspectiva serve para já vislumbrar o que viria após o Romantismo, o Realismo, no qual a figura da mulher será:
a) Idealizada
b) Sentimentalizada
c) Erotizada
d) Contabilizada
e) Mistificada
3. (Ufsc) - Considere as afirmativas sobre Barroco e o Arcadismo:
1. Simplificação da língua literária – ordem direta – imitação dos antigos gregos e romanos.
2. Valorização dos sentidos – imaginação exaltada – emprego dos vocábulos raros.
3. Vida campestre idealizada como verdadeiro estado de poesia-clareza-harmonia.
4. Emprego freqüente de trocadilhos e de perífrases – malabarismos verbais – oratória.
5. Sugestões de luz, cor e som – antítese entre a vida e a morte – espírito cristão antiterreno.
Assinale a opção que só contém afirmativas sobre o Arcadismo:
a) 1, 4 e 5
b) 2, 3 e 5
c) 2, 4 e 5
d) 1 e 3
e) 1, 2 e 5
(Santa Casa SP) - Texto I
“É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.”
Texto II
“Depois que nos ferir a mão da morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dous a mesma terra.”
4. O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é possível afirmar que os árcades optaram por uma expressão:
a) impessoal e, portanto, diferenciada do sentimentalismo barroco, em que o mundo exterior era projeção do caos interior do poeta.
b) despojada das ousadias sintáticas da estética anterior, com predomínio da ordem direta e de vocábulos de uso corrente.
c) que aprofunda o naturalismo da expressão barroca, fazendo que o poeta assuma posição eminentemente impessoal.
d) em que predominam, diferentemente do Barroco, a antítese, a hipérbole, a conotação poderosa.
e) em que a quantidade de metáforas e de torneios de linguagem supera a tendência denotativa do Barroco.
As opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.
(Não é obrigatório que todos os autores estejam nas alternativas. 2 textos podem pertencer ao mesmo autor)
Texto "A" ( )
"Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos."
Texto "B" ( )
"Ó não aguardes, que a madura idade
te converte essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",
Texto "C" ( )
"Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte".
Texto "D" ( )
"O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
Preencha os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte convenção:
I) Gregório de Matos
II) Tomás Antônio Gonzaga
III) Basílio da Gama
IV) Cláudio Manuel da Costa
5. Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:
a) II - I - III - I
b) IV - I - II - II
c) I - II - II - I
d) I - IV - III - I
e) II - IV - III - IV
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Pequena conversa sobre a mulher na poesia romântica
Um bom texto do http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/151890
1. Poesia romântica?!
2. Primeira geração
3. Segunda geração
4. Terceira geração
5. Um bom resumo
1.Poesia romântica?!
Eis aqui uma conversa informal sobre o papel da mulher na poesia romântica. E, pra começo de conversa, acho conveniente cutucar meu leitor com uma pergunta simples: o que é poesia romântica?
Todos temos uma noção intuitiva disso. Esse assunto povoa nossa mente com elementos doces. Traz em si a idéia de flores, estrelas, amores, é novela, fofura, geralmente enternece mulheres e entedia homens.
Entretanto, essa idéia que carregamos desde sempre transforma-se num grande erro quando se trata de literatura. “Romântico” no sentido literário é muito diferente de “romântico” no sentido figurado. O romantismo a que nos referimos a torto e a direito por aí não corresponde de jeito nenhum ao movimento artístico burguês do séc XIX, e, quando muito, é apenas uma face muito pequena e deformada dele.
Embora o exagero sentimental seja marca registrada, esse período literário tem outros traços, bem particulares e até estranhos para quem não conhece o movimento. Por exemplo: dizer que um escritor é romântico pode significar que ele é satânico. Ou que gosta da noite e do sobrenatural, ou que é religioso, ou que é promíscuo, indianista, medieval, burguês, ou que gosta de mulheres mortas...
Romantismo é um movimento amplo. Sua compreensão se torna mais fácil se percebermos que dentro dele cabem coisas sem relação alguma com o sentido tradicional da palavra, e, às vezes, sem aparente relação entre si.
Na verdade, falando de poetas românticos, eles são tão diversos entre si, que temos o hábito de estudá-los em 3 grupos, ou 3 gerações. Essa divisão é bem imperfeita e não serve para a prosa, mas estudá-la é uma forma de entender como o poeta romântico se comporta em cada uma dessas 3 épocas.
Interessante é observar que, a cada comportamento, existe uma forma de amar diferente e, portanto, um ideal de perfeição e beleza diferente, o que gera a necessidade de uma nova musa. Assim, da mesma forma que existem 3 gerações românticas, há 3 mulheres românticas. E convido o leitor a conversar sobre cada uma delas.
2- Primeira geração.
Na poesia da primeira geração, o amor é angelical, idealizado e –palavra-chave – cortês. Lembra bastante o trovadorismo medieval, no qual o homem é um cavaleiro e a mulher, verdadeira princesa, a mais bela dentre todas. Ela é jovem, adolescente e virgem, puríssima, imaculada. O homem dá-se por muito feliz se puder apenas cantar sua senhora, cobrir-lhe de glórias e andar seguindo seus pés, pensando nela, apenas. Mesmo no plano do pensamento, não observamos sensualidade, muito menos sexo. O amor é puro, o homem é protetor submisso, e nada de concreto se realiza entre os amantes, devido à enorme distância entre ambos. Há muita contemplação e pouca ação, como podemos perceber na estrofe de Gonçalves Dias:
"Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mi*,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi"
(...)
• Mim
3- Segunda geração
Aqui, já temos um início de sensualidade, apesar de fortemente reprimida e muito conflituosa. Ineditamente, o poeta sugere que deseja carnalmente a amada, porém, em virtude da idealização feminina extrema, ele se sente inferior e indigno de tocá-la. Por isso, Casimiro de Abreu diz:
“Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra”
De modo geral, esses poetas são perturbados. Fruto de uma época caótica, em que a humanidade viu desmancharem-se as promessas de igualdade da Revolução Francesa, eles observam a permanência das injustiças no mundo com desespero.
Preferem então fugir dessa realidade insuportável. Fazem isso de várias formas: ora lembram saudosos os momentos da infância, ora refugiam-se nos prazeres do álcool, do sexo (byronismo), ora afagam com carinho a idéia de morrer. Sim, com carinho. A Atração pela morte é uma constante na segunda geração romântica. Por isso, nem é de se admirar que seja forte, aqui, o gosto por mulheres magras, pálidas, e muitas vezes, mortas.
A segunda geração é chamada ultra romântismo ou mal-do-século. Realmente, nesse período a sociedade literária passou por uma onda de desespero e depressão que abalou seriamente a vida dos autores, rendendo muitos casos de mortes prematuras. Era raro um poeta chegar aos 30 anos.
Justamente por ser tão triste e conflituoso, o ultra romântico se reconhece um “precito”, ou seja, um maldito. E ele não quer macular sua amada virgem com isso. Assim, forte característica da geração é o medo de amar , em conflito com o forte desejo de consumar o amor. Casimiro resume bem:
“Se te fujo é que adoro e muito,
És bela- eu moço; tens amor, eu- medo!”
A moça continua virgem, porém, freqüentemente é vista seminua, desejável e inatingível. O poeta mal do século deseja aquilo que não pode ter. Então, quer esquecer, divagar no passado, beber, morrer...
4. Terceira geração.
Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica de terceira geração sem falar no poeta baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor.
Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.
E o poeta dos escravos, como ficou conhecido por sua poesia social, soube transplantar para a lírica amorosa o gosto pelas imagens monumentais, tornando sua poesia ao mesmo tempo erótica e lírica, interessante, pois, até para os mais acanhados.
De modo geral, o poeta posiciona-se claramente contra os desesperos e medos ultra-românticos. Castro Alves ama a vida e gosta mesmo é de fazer amor.
"Boa noite , Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite!... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos"
(...)
5- Um bom resumo
O poema “Os três amores”, de Castro Alves, é um belo diálogo entre as 3 gerações românticas. Nele, cada estrofe corresponde a uma fase do movimento romântico: na primeira estrofe, vemos o amor cortês; na segunda, o ultra romantismo; na última, o amor sensual. Apesar de uma ou outra referência literária que o leitor pode desconhecer, o poema vale a pena ser lido. Além de belo,é um bom resumo de tudo que conversamos aqui.
I
Minh´alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes,
- Tu és Eleonora...
II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu, teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
- E tu és Julieta...
III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha...
Eu morro, se desfaço-te a mantilha...
Tu és - Júlia, a Espanhola!...
Jéssica Callou Enviado por Jéssica Callou em 07/05/2006
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