sexta-feira, 29 de maio de 2015

Sobre o fingimento Árcade


 Esse texto aqui faz parte de algo que aprecio muito: o uso dos canais modernos, como o Whatsapp para podermos tirar dúvidas e nos aproximarmos de algo que possa ajudar a todos.


Sobre o fingimento árcade

O fingimento árcade era uma espécie de fingimento poético que se manifestava por meio de algumas características:

 O pastoralismo
O pastoralismo árcade era artificial, na medida em que os árcades se imaginavam parte de uma irmandade de "pastores" (as Arcádias). Era um artificialismo já que, na verdade, o poeta árcade era um homem urbano.
  Bocage



 O Sentimentalismo (Convencionalismo amoroso)

O Sentimentalismo árcade era artificial na medida em que era moldado pelo Racionalismo, sendo a meta o "Convencionalismo Amoroso", ou seja, a objetivação da relação entre ele e a amada através do uso de pseudônimos, isso os protegeria dos arroubos que são elementos de uma paixão, já que não era ela que estava a escrever, mas sim o pseudônimo à amada - que também é um personagem. (ex: Não era Tomás A. Gonzaga que estava a escrever à Maria Dorotheia, mas era Dirceu que escrevera à Marília)
 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirucJIATKXJYshJPFPCn5UoYYUzkRqx2g_McjUPQjZQT2LTiJnbqX8GTLD7kUTSf6KALlkbAwv5IPKhWXnmZrc6R2lCFwhia5x5uY3QYEOhnHgiakusbdNwdalEnKlKfG4Xsmg6e2rAhs/s1600/arcadismo+exercicio.jpg O amor idílico do árcade

 

O Normalismo
Talvez o mais difícil de todos os artificialismo tenha sido o Normalismo, que requeria uma estrutura ao texto poético, o que fazia com que o poeta árcade fosse um liberal em sua política (inconfidente e apoiador das Revoluções Liberais) e um reacionário em sua poesia, situação que não iria durar muito, pois o Liberalismo na política iria requerer o Liberalismo na forma, que viria por meio do Romantismo.
 http://www.alunosonline.com.br/upload/conteudo/images/arcadismo-%20no-%20Brasil-1aol.jpgInconfidência Mineira

domingo, 24 de maio de 2015

Marabá - 2 parte e exegese


Comentários

Publicado no livro Últimos Cantos (1851) durante o período Romântico, Marabá é Poema integrante da série Poesias Americano. Esse poema tem 11 estrofes e 54 versos, sendo eles 6 quartetos e 5 sextetos.
O poema segue o esquema de rimas (AA B CC B / D E F E) esse padrão se repete ao longo do poema. Quanto aos versos, eles são de 11 e 5 silabas poéticas. Nos sextetos os versos variam, podendo ser 11 e 5 sílabas poéticas, nos quartetos há uma predominância de versos com 11 sílabas poéticas com exceção dos dois últimos quartetos que apresentam uma alternância entre 11 sílabas com um verso de 5 sílabas. Partindo de uma análise estrutural podemos afirmar que a predominância de jambos e anapestos indicam a dor, sofrimento e solidão sentida pela índia Marabá expressa no poema. Uma leitura mais atenta perceberá que a índia sofre por não ser aceita na tribo por ser uma índia mestiça. Ainda há uma repetição de vogais fechadas ao longo de todo o poema /o/ e /u/ que indicam a dor e a melancolia (Se algum dos guerreiros não foge a meus passos) em apenas um verso há a repetição das vogais /o/ e /u/ acentuando a dor e o sofrimento experimentado pelo eu lírico. Neste outro fragmento (Se ainda me escuta meus agros delírios) a repetição das vogais /e/ e as vogais fechadas assinalam o lamento expressado pela índia Marabá. A índia em várias estrofes é descrita para ao mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua frustração por não encontrar o amor por ser mestiça.

O elemento medievalista: A redondilha e o eu-lírico feminino; o dialogismo e a função do ambiente
O elemento romântico: A evasão, o delírio, a dor de amar, o elemento paisagístico, o indianismo, o exotismo.


Eu /vi/vo/ so/zi/nha/; nin/guém /me /pro/cu/ra!
A/ca/so /fei/tu/ra
Não/ sou/ de /Tu/pá?
Se al/gum /den/tre os/ ho/mens/ de /mim /não/ se es/con/de,
Tu/ és/, /me /res/pon/de,
Tu /és /Ma/ra/bá!


Os versos quanto ao esquema ritmo seguem o seguinte padrão: (Eu VIvo soZINha; ninGUÉM me proCUra)
A primeira parte do verso é jambo seguido de um anapésto. O mesmo acontece com o verso seguinte (ACAso feiTUra) , do mesmo modo a primeira silaba, fraca seguida de um forte, depois duas fracas seguidas de uma forte. A leitura em voz alta dos versos ecoa feito um tambor, efeito garantido pelo acento mais forte que recai na 2°, 6° e 10° sílabas.Ainda encontramos exemplos de supressão de sílabas poéticas em vários momentos do poema (Se algum dentre os homens de mim não se esconde) a primeira sílaba é uma união da primeira palavra do verso com a primeira sílaba da segunda palavra do verso, esse fenômeno é chamado de sinaléfa. A crase é outra forma de supressão de sílaba poética encontrado no poema, ela ocorre quando a vogal átona final de uma palavra emenda-se com a vogal da palavra seguinte, mas isso apenas acontece quando as vogais são idênticas, como no seguinte caso (não se esconde)
O hipérbato é um recurso bastante empregado na poesia, no caso deste poema algumas passagens que podemos destacar um exemplo de hipérbato, ou seja, a inversão sintática da frase (Se algum dentre os homens de mim não se esconde,), aqui nós podemos perceber que o objeto da oração não está no final como geralmente acontece.

Eu vivo sozinha – a constatação hiperbólica, absolutizadora, o eu-lírico finino se derrama no sentimento de solidão.
Não sou de tupá – o cristianismo adpatado dentro do Romantismo/ a imago dei torna todos os homens iguais (relação Quakers >>> Abolicionismo) (Sincretismo aponta para o modelo Jesuítico Quinhentista)
Me responde – o dialogismo será o elemento no qual o discurso de poema se processará. Ele assume uma dupla identidade interlocutor/algoz.
Tu és – A repetição, com ar de reforço identitário – nós somos a partir do outro. O que, para ela, não é uma revelação de pertença, mas de alienação e rejeição. A angústia de ser identificada por algo indefinido.
A dicotomia ente uma afirmação tônica (és) com um subtantivo não identitário (marabá) – “um estranho entre os homens” (Auerbach).


1 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO - Os olhos.


Meus /o/lhos/ são /gar/ços/, são/ cor/ das/ sa/fi/ras,
Têm /luz /das /es/tre/las,/ têm /me/i/go/ bri/lhar;
I/mi/tam/ as /nu/vens/ de um/ céu a/ni/la/do,
As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

(Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da índia é centrado no brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão belos que são comparados à luz das estrelas através de uma metáfora.Também há o efeito de ectlipse são neste poema como é o caso de (Teus olhos são garços) a parte em negrito indica o momento em que a elisão ocorre, a formação de sílaba /zo/
Neste outro fragmento assonância do /e/ (Bem pretos, retintos...).

Os elementos de percepção demonstram o deslocamento identitário pela falta de lugar entre os homens.
A idealização amorosa faz com que alma possa ser vista pelos olhos.
A descrição dos elementos perpassa 3 ambiente: terra, céus(maior e menor) e mar.

2 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Rosto.

É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
Da cor das areias batidas do mar;
As aves mais brancas, as conchas mais puras
Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. —

Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."

O poeta também se aproveita do uso de imagens e faz comparação do rosto da índia Marabá com os lírios (— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,)
A troca do elemento de comparação adversativa da 4 para 3 fazendo com que perca força expressiva
delírios – a percepção da realidade da alienção e o elemento da loucura que se caracteriza ou negação da realidade.
Sorrindo – o algoz não mais somente responde, sorri. O elemento sarcástico se contrapondo à tentativa ou até mesmo o desejo de pertença da índia.


3 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – A pele.

Meu colo de leve se encurva engraçado,
Como hástea pendente do cáctus em flor;
Mimosa, indolente, resvalo no prado,
Como um soluçado suspiro de amor! —

"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."

Outro exemplo de sinaléfa seria esse fragmento ("Que as flóreas campinas governa, onde está), a parte em negrito marca onde ocorre a sinaléfa, ou seja, a formação de um ditongo. (Qual duma palmeira), a palavra “duma” também é outro recurso poético largamente usado pelos poetas para garantir o ritmo e a métrica dentro do poema, esse feito denomina-se etclipse, ou seja, é a supressão de letras: consoante com vogal, esse efeito é encontrado em vário outros momentos no poema.
A ideal romântico é pontuado aqui pela suavidade quase etérea que a índia revela sobre si mesma.
Ema – elemento comparativo entre a heroína/musa europeia, notadamente a camiliana, e a mitopoética brasileira...o índio como forte, puro, valoroso.



4 ELEMENTO DE PERCEPÇÃO – Cabelos.

Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
O oiro mais puro não tem seu fulgor;
As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."

(As brisas nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é posta em destaque, porque os bosques se enamoram de tanta beleza, caso de personificação.
A aliteração do /s/ em vários momentos, tal como podemos constatar neste fragmento a repetição da consoante sibilante (Mas eles respondem: “Teus longos cabelos, São loiros, são belos”.).

————

E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!

Para dar mais ênfase ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu lírico recorre a mistura de sentidos para tentar alcançar a clareza em transmitir os sentimentos melancólicos, (E as doces palavras que eu tinha cá dentro/A quem nas direi?)


Conclusão

Podemos resumir Marabá como um poema sobre:

  • Rejeição
  • Alienação
    • perceber-se categoricamente.
    • Sentir-se separado.
  • Unicidade
    • A maldição do gênio romântico, um estranho em os homens.
    • Mme. Bovary c'est moi
  • Identidade
    • O desejo por alguém que lhe confirme quem é, por também ser assim.
      • Cumplicidade
        • Katherine e Heathcliff (O morro dos ventos uivantes)
        • O monstro (Frankesntein)
        • Hand in Glove”
        • Almas Gêmeas”
    • O desespero do elemento adversativo. O elemento adversativo se opõe ao desejo como função realista, relembrando à índia o elemento alienatório.

Marabá - 1 parte


Cumprimentos

Agradeço à oportunidade dada pela Casa de Cultura, para essa pequena análise de nosso bardo caixense. Se interessar a alguém. Disponibilizarei os textos lidos aqui e a análise em meu twitter & blog professoral (@aulasetextos e http://aulasetextos.com ).


Considerações

Por que se estudar Gonçalves Dias?
Marabá
Mme. Bovary c'est moi
Essa origem mestiça causou grande frustração na sua vida impedindo-o de se casar com Ana Amélia e que aparentemente o poeta jamais se recuperaria desse evento. A frustração experimentada por essa índia também é a mesma frustração experimentada pelo próprio poeta que é impedido do amor verdadeiro por sua origem mestiça.

Contexto

SERA, Tânia. Indianismo: Evasão E Participação No Romantismo Brasileiro in http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3731/6/ARTIGO_IndianismoEvasaoParticipacao.pdf <acesso em 20/05/2015>

Para podermos compreender o fenômeno literário do Indianismo, é necessário voltarmos alguns séculos para trás na História e vir mapeando o desenvolvimento dessa corrente do primeiro Romantismo brasileiro, a fim de podermos verificar sua identidade profunda com o nacionalismo que ocorreu nas primeiras décadas de nossa Independência e que não pode ser eliminado de uma análise sobre aquele período. E necessário, também, termos em mente que há duas correntes de influência paralelas nesse correr dos séculos, a saber: a literatura colonial do tipo exótico-ufanista, principalmente os poemas épicos do Barroco brasileiro (juntamente com sua prima próxima, a literatura de viagem),e a noção filosófica do ameríndio como um Adão em estado de pré-queda, espécie de embasamento teórico para o Americanismo que vai eclodir na França do começo do século XIX. Do ponto de vist a político, encontra-se aí uma enorme efervescência em seguida à Revolução Francesa, conforme já disse Carpeaux. É a época do liberalismo, tanto político quanto social, e até mesmo literário: "O Romantismo ... é o ... 'liberalismo em literatura'", diz Victor Hugo em seu prefácio a Hernani. É também, e sobretudo, a época em que camadas sociais antes reprimidas aspiram a uma faixa de poder. A burguesia luta por um lugar ao sol, e a ideologia dessa atitude vai refletir-se no movimento romântico. É essa mesma burguesia que, durante o Renascimento e as grandes descobertas, vai colocar seu olhar "civilizado" sobre os bárbaros das Américas e elegê-los como o ponto de partida para um neobucolismo necessário à nova ideologia financeiramente interessada de uma Europa em rápido processo de urbanização, que irá desembocar na Revolução Industrial e na Revolução Francesa do Século XVIII.Montaigne, Rousseau e Chateaubriand, cada qual com sua visão particular, forjam o arquétipo do novo Adão paradisíaco, a saber, o índio americano; o bon sauvage. O Americanismo de Chateaubriand — e mais tarde o de Cooper — chega-nos num momento em que o olhar dos viajantes mercantilistas já havia registrado o exotismo do ameríndio, a exuberância da natureza tropical, a virgindade e a extensão das terras brasílicas. Nossa épica barroca está cheia de exemplos do ufanismo com que a terra e a gente eram visualizadas pelos poetas. Desde Anchieta já se pode falar de uma visão nativista, ou melhor, indigenista do nosso índio. Por esse caminho seguem Santa Rita Durão, com seu Caramuru, ou Basílio da Gama n'0 Uraguai, e até mesmo Sebastião da Rocha Pita na prosa de seu barroquíssimo A História da América Portuguesa.
Fazendo com que as correntes paralelas que influenciaram nosso Indianismo se encontrem, o francês Ferdinand Denis, primeiro em 1824, depois em 182ó, publica livros em que fala de uma literatura brasileira. O Resumo da História Literária do Brasil (de 1826) é o primeiro documento de história literária mencionando não só uma literatura nossa, como sugerindo que ela poderia ser muito mais viçosa se seguisse o caminho indianista, agora que o país conseguiu uma situação ideal, pois desde 1822 se havia libertado de Portugal. O que vemos acontecer, nessa primeira metade do século XIX, é uma tentativa sistemática de erigir essa independência sobre bases sólidas, isto é, autenticamente nacionais. O nacionalismo será, então, o que dará o tom a todas as manifestações político-culturais no país; "a literatura romântica foi arma de ação política e social desde a independência" (Coutinho, 1976: 169). É também o momento em que vários países da Europa se estão formando como nação,
onde antes havia ducados e principados separados, como a Itália e a Alemanha, por exemplo. No Novo Mundo, é quando começam as guerras de Independência, inspiradas na dos Estados Unidos da América no final do século XVIII.Esse sentimento também chega ao Brasil. É preciso, portanto, "fundar" urgentemente uma literatura brasileira, não mais referida por estrangeiros, mas por filhos da nova terra independente. Se, no entanto, desde a época do Brasil colônia tivemos cantos celebrando as belezas e excelências da terra, estes são mais manifestações nativistas do que nacionalistas.

O terreno estando semeado pelas duas correntes — o exotismo ufanista, que possibilita o mito da terra propícia à literatura, e o arquétipo do bon sauvage, que vai desembocar no paradigma do homem perfeito -, elas acabam tocando-se e misturando-se no começo do Primeiro Reinado. Agora, só nos falta uma ideologia própria que, separando-se das matrizes européias, alcance vôo-solo. Essa manifestação de nacionalismo literário - o nosso Indianismo, que vai, grosso modo, de 1840 a 1860 - foi ideologicamente legitimada por Domingos José Gonçalves de Magalhães no seu interessantíssimo e curioso "Discurso sobre a Literatura do Brasil", publicado na revista Niterói, em Paris (!), no ano de 1836, e que pode ser considerado nosso primeiro manifesto romântico. Nesse ensaio, que deveria servir de introdução a uma história da literatura brasileira, que nunca veio à luz, o futuro Visconde de Araguaia lança as cinco premissas que permitirão ao jovem país criar um fundamento "iítero-ideológico" que lhe possibilitaria executar um programa inovador de cultura, não mais luso, mas euro-brasileiro. Um pouco o que Oswald de Andrade, quase um século depois, vai realizar no nosso Modernismo.
Nosso Indianismo vem, então, preencher requisitos do exotismo e do nacionalismo literários. Segundo Nelson Werneck Sodré, o fenômeno da idealização do índio, uma das características fundamentais daquela corrente do Romantismo brasileiro como manifestação literária, sobretudo na poesia, também existe desde o século XVI. Nos capítulos em que trata de Indianismo, na sua ainda bastante pertinente História da Li-teratura Brasileira, o historiador traça a trajetória da mitificação do aborígene na sociedade branca ocidental até o Século das Luzes, quando aparece a idéia do bon sauvage de Rousseau, seguindo-se a literatura americanista de evasão baseada nos heróis ameríndios de Chateau-briand, como já foi dito anteriormente.
José de Alencar, na prosa de ficção, e Gonçalves Dias, na poesia, são os dois maiores representantes do Indianismo. São os Primeiros Cantos, publicados em 1847, que vão popularizar de vez a tendência que outros poetas menores já manipulavam.
O vate maranhense é considerado até hoje como "o poeta nacional" (Martins, 1978: 348). Faz parte do que se convencionou chamar de a Primeira Geração Romântica, ainda com fortes influências da forma clássica, mas já com uma temática que reflete o país a emergir da sombra de Portugal. É ele quem começa oficialmente o Indianismo no Brasil, com a publicação da obra acima mencionada. Toda uma primeira parte é chamada de "Poesias Americanas", e o poeta vai conhecer enorme sucesso, entrando para o círculo restrito dos jovens escritores que freqüentavam o exclusivo Paço Imperial, como o próprio Gonçalves de Magalhães e Joaquim de Macedo, por exemplo. O Imperador Pedro II vai até mesmo pedir-lhe que faça alguns estudos etnográficos, a partir
do recém-fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1838 -, que resultam, por exemplo, na monografia "Brasil e Oceania", de 1856, curiosíssimo trabalho em que Gonçalves Dias compara os índios brasileiros e os aborígenes australianos, chegando à conclusão de que os nossos são infinitamente "melhores" que os outros, por sua docilidade e pela facilidade com que deixam os hábitos pagãos. Esse interesse pela etnografia é muito sintomático, pois mostra a enorme curiosidade despertada pela população indígena e seus costumes, embora, nessa época, o genocídio das populações autóctones americanas já estivesse praticamente consumado. Mas é a partir desses dados colhidos que se vai poder criar uma idealização do homem-índio-Adão primitivo, padrão de homem honrado e valente que pode ser, então, comparado ao cavaleiro medieval: "O indianismo de Gonçalves Dias ... é parente do medievismo coimbrão ... As Sextilhas de Frei Antáo ... [e] "O Trovador" (poemas medievistas), poder-se-iam considerar pares simétricos d'Os Timbiras, do "I-Juca-Pirama", ... pela redução do índio aos padrões da Cavalaria" (Cândido, 1975: 84).
Esse novo herói será extremamente popular, fornecendo — para o público fluminense e o das províncias o caldo de nacionalidade necessária para unir a grande euforia cívica que se segue à Independência sobretudo no Segundo Reinado, o acréscimo de algo genuinamente nacional: uma identidade cultural brasileira.

Composição

Gonçalves Dias (Antônio G. D.), poeta, professor, crítico de história, etnólogo, nasceu em Caxias, MA, em 10 de agosto de 1823, e faleceu em naufrágio, no baixio dos Atins, MA, em 3 de novembro de 1864. É o patrono da Cadeira n. 15, por escolha do fundador Olavo Bilac.
Era filho de João Manuel Gonçalves Dias, comerciante português, natural de Trás-os-Montes, e de Vicência Ferreira, mestiça. Perseguido pelas exaltações nativistas, o pai refugiara-se com a companheira perto de Caxias, onde nasceu o futuro poeta. Casado em 1825 com outra mulher, o pai levou-o consigo, deu-lhe instrução e trabalho e matriculou-o no curso de latim, francês e filosofia do prof. Ricardo Leão Sabino. Em 1838 Gonçalves Dias embarcaria para Portugal, para prosseguir nos estudos, quando faleceu-lhe o pai. Com a ajuda da madrasta pôde viajar e matricular-se no curso de Direito em Coimbra. A situação financeira da família tornou-se difícil em Caxias, por efeito da Balaiada, e a madrasta pediu-lhe que voltasse, mas ele prosseguiu nos estudos graças ao auxílio de colegas, formando-se em 1845. Em Coimbra, ligou-se Gonçalves Dias ao grupo dos poetas que Fidelino de Figueiredo chamou de “medievalistas”. À influência dos portugueses virá juntar-se a dos românticos franceses, ingleses, espanhóis e alemães. Em 1843 surge a “Canção do exílio”, um das mais conhecidas poesias da língua portuguesa.

Regressando ao Brasil em 1845, passou rapidamente pelo Maranhão e, em meados de 1846, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde morou até 1854, fazendo apenas uma rápida viagem ao norte em 1851. Em 46, havia composto o drama Leonor de Mendonça, que o Conservatório do Rio de Janeiro impediu de representar a pretexto de ser incorreto na linguagem; em 47 saíram os Primeiros cantos, com as “Poesias americanas”, que mereceram artigo encomiástico de Alexandre Herculano; no ano seguinte, publicou os Segundos cantos e, para vingar-se dos seus gratuitos censores, conforme registram os historiadores, escreveu as Sextilhas de frei Antão, em que a intenção aparente de demonstrar conhecimento da língua o levou a escrever um “ensaio filológico”, num poema escrito em idioma misto de todas as épocas por que passara a língua portuguesa até então. Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do Colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara, com Macedo e Porto Alegre. Em 51, publicou os Últimos cantos, encerrando a fase mais importante de sua poesia.
A melhor parte da lírica dos Cantos inspira-se ora da natureza, ora da religião, mas sobretudo de seu caráter e temperamento. Sua poesia é eminentemente autobiográfica. A consciência da inferioridade de origem, a saúde precária, tudo lhe era motivo de tristezas. Foram elas atribuídas ao infortúnio amoroso pelos críticos, esquecidos estes de que a grande paixão do Poeta ocorreu depois da publicação dos Últimos cantos. Em 1851, partiu Gonçalves Dias para o Norte em missão oficial e no intuito de desposar Ana Amélia Ferreira do Vale, de 14 anos, o grande amor de sua vida, cuja mãe não concordou por motivos de sua origem bastarda e mestiça. Frustrado, casou-se no Rio, em 1852, com Olímpia Carolina da Costa. Foi um casamento de conveniência, origem de grandes desventuras para o Poeta, devidas ao gênio da esposa, da qual se separou em 1856. Tiveram uma filha, falecida na primeira infância.
Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Em 56, viajou para a Alemanha e, na passagem por Leipzig, em 57, o livreiro-editor Brockhaus editou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras, compostos dez anos antes, e o Dicionário da língua tupi. Voltou ao Brasil e, em 1861 e 62, viajou pelo Norte, pelos rios Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de Exploração. Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo logo para a Europa, em tratamento de saúde, bastante abalada, e buscando estações de cura em várias cidades européias. Em 25 de outubro de 63, embarcou em Bordéus para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações de cura em Aix-les-Bains, Allevard e Ems. Em 10 de setembro de 1864, embarcou para o Brasil no Havre no navio Ville de Boulogne, que naufragou, no baixio de Atins, nas costas do Maranhão, tendo o poeta perecido no camarote, sendo a única vítima do desastre, aos 41 anos de idade.
Todas as suas obras literárias, compreendendo os Cantos, as Sextilhas, a Meditação e as peças de teatro (Patkul, Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça), foram escritas até 1854, de maneira que, seguindo Sílvio Romero, se tivesse desaparecido naquele ano, aos 31 anos, “teríamos o nosso Gonçalves Dias completo”. O período final, em que dominam os pendores eruditos, favorecidos pelas comissões oficiais e as viagens à Europa, compreende o Dicionário da língua tupi, os relatórios científicos, as traduções do alemão, a epopéia Os Timbiras, cujos trechos iniciais, que são os melhores, datam do período anterior.
Sua obra poética, lírica ou épica, enquadrou-se na temática “americana”, isto é, de incorporação dos assuntos e paisagens brasileiros na literatura nacional, fazendo-a voltar-se para a terra natal, marcando assim a nossa independência em relação a Portugal. Ao lado da natureza local, recorreu aos temas em torno do indígena, o homem americano primitivo, tomado como o protótipo de brasileiro, desenvolvendo, com José de Alencar na ficção, o movimento do “Indianismo”. Os indígenas, com suas lendas e mitos, seus dramas e conflitos, suas lutas e amores, sua fusão com o branco, ofereceram-lhe um mundo rico de significação simbólica. Embora não tenha sido o primeiro a buscar na temática indígena recursos para o abrasileiramento da literatura, Gonçalves Dias foi o que mais alto elevou o Indianismo. A obra indianista está contida nas “Poesias americanas” dos Primeiros cantos, nos Segundos cantos e Últimos cantos, sobretudo nos poemas “Marabá”, “Leito de folhas verdes”, “Canto do piaga”, “Canto do tamoio”, “Canto do guerreiro” e “I-Juca-Pirama”, este talvez o ponto mais alto da poesia indianista. É uma das obras-primas da poesia brasileira, graças ao conteúdo emocional e lírico, à força dramática, ao argumento, à linguagem, ao ritmo rico e variado, aos múltiplos sentimentos, à fusão do poético, do sublime, do narrativo, do diálogo, culminando na grandeza da maldição do pai ao filho que chorou na presença da morte.
Pela obra lírica e indianista, Gonçalves Dias é um dos mais típicos representantes do Romantismo brasileiro e forma com José de Alencar na prosa a dupla que conferiu caráter nacional à literatura brasileira.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

5 Questões das Escolas do Barroco ao Realismo



“Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica dessa geração sem falar no baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor. Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.”

1. Essa afirmação, que se mostra diversa daquilo que imaginamos sobre o idealismo Romântico é verdadeira, e corresponde a mudança que se apercebe:
a) Na poesia Indianista
b) Na prosa Urbana
c) Na 3 Geração poética
d) Na 1 Geração Poética
e) No Romantismo baiano

2. Essa mudança de perspectiva serve para já vislumbrar o que viria após o Romantismo, o Realismo, no qual a figura da mulher será:
a) Idealizada
b) Sentimentalizada
c) Erotizada
d) Contabilizada
e) Mistificada

3. (Ufsc) - Considere as afirmativas sobre Barroco e o Arcadismo:

1. Simplificação da língua literária – ordem direta – imitação dos antigos gregos e romanos.
2. Valorização dos sentidos – imaginação exaltada – emprego dos vocábulos raros.
3. Vida campestre idealizada como verdadeiro estado de poesia-clareza-harmonia.
4. Emprego freqüente de trocadilhos e de perífrases – malabarismos verbais – oratória.
5. Sugestões de luz, cor e som – antítese entre a vida e a morte – espírito cristão antiterreno.
Assinale a opção que só contém afirmativas sobre o Arcadismo:
a) 1, 4 e 5
b) 2, 3 e 5
c) 2, 4 e 5
d) 1 e 3
e) 1, 2 e 5

(Santa Casa SP) - Texto I
“É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.”

Texto II
“Depois que nos ferir a mão da morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dous a mesma terra.”

4. O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é possível afirmar que os árcades optaram por uma expressão:
a) impessoal e, portanto, diferenciada do sentimentalismo barroco, em que o mundo exterior era projeção do caos interior do poeta.
b) despojada das ousadias sintáticas da estética anterior, com predomínio da ordem direta e de vocábulos de uso corrente.
c) que aprofunda o naturalismo da expressão barroca, fazendo que o poeta assuma posição eminentemente impessoal.
d) em que predominam, diferentemente do Barroco, a antítese, a hipérbole, a conotação poderosa.
e) em que a quantidade de metáforas e de torneios de linguagem supera a tendência denotativa do Barroco.


As opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.
(Não é obrigatório que todos os autores estejam nas alternativas. 2 textos podem pertencer ao mesmo autor)

Texto "A" ( )
"Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos."

Texto "B" ( )
"Ó não aguardes, que a madura idade
te converte essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",

Texto "C" ( )
"Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte".

Texto "D" ( )
"O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.

Preencha os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte convenção:

I) Gregório de Matos
II) Tomás Antônio Gonzaga
III) Basílio da Gama
IV) Cláudio Manuel da Costa


5. Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:
a) II - I - III - I
b) IV - I - II - II
c) I - II - II - I
d) I - IV - III - I
e) II - IV - III - IV




Gabarito:
1 - C
2 - D
3 - D
4 - B
5 - A

domingo, 17 de maio de 2015

MInd Map - Realismo







Mind Map Romantismo








5 questões em Romantismo e Arcadismo


QUESTÕES

“Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica dessa geração sem falar no baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor. Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.”

1. Essa afirmação, que se mostra diversa daquilo que imaginamos sobre o idealismo Romântico é verdadeira, e corresponde a mudança que se apercebe:
a) Na poesia Indianista
b) Na prosa Urbana
c) Na 3 Geração poética
d) Na 1 Geração Poética
e) No Romantismo baiano


2. Essa mudança de perspectiva serve para já vislumbrar o que viria após o Romantismo, o Realismo, no qual a figura da mulher será:
a) Idealizada
b) Sentimentalizada
c) Erotizada
d) Contabilizada
e) Mistificada

3. (Ufsc) - Considere as afirmativas sobre Barroco e o Arcadismo:
1. Simplificação da língua literária – ordem direta – imitação dos antigos gregos e romanos.
2. Valorização dos sentidos – imaginação exaltada – emprego dos vocábulos raros.
3. Vida campestre idealizada como verdadeiro estado de poesia-clareza-harmonia.
4. Emprego freqüente de trocadilhos e de perífrases – malabarismos verbais – oratória.
5. Sugestões de luz, cor e som – antítese entre a vida e a morte – espírito cristão antiterreno.

Assinale a opção que só contém afirmativas sobre o Arcadismo:
a) 1, 4 e 5
b) 2, 3 e 5
c) 2, 4 e 5
d) 1 e 3
e) 1, 2 e 5


(Santa Casa SP) - Texto I
“É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.”

Texto II
“Depois que nos ferir a mão da morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dous a mesma terra.”


4. O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é possível afirmar que os árcades optaram por uma expressão:
a) impessoal e, portanto, diferenciada do sentimentalismo barroco, em que o mundo exterior era projeção do caos interior do poeta.
b) despojada das ousadias sintáticas da estética anterior, com predomínio da ordem direta e de vocábulos de uso corrente.
c) que aprofunda o naturalismo da expressão barroca, fazendo que o poeta assuma posição eminentemente impessoal.
d) em que predominam, diferentemente do Barroco, a antítese, a hipérbole, a conotação poderosa.
e) em que a quantidade de metáforas e de torneios de linguagem supera a tendência denotativa do Barroco.


As opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.
(Não é obrigatório que todos os autores estejam nas alternativas. 2 textos podem pertencer ao mesmo autor)

Texto "A" ( )
"Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos."

Texto "B" ( )
"Ó não aguardes, que a madura idade
te converte essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",

Texto "C" ( )
"Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte".

Texto "D" ( )
"O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.

Preencha os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte convenção:
I) Gregório de Matos
II) Tomás Antônio Gonzaga
III) Basílio da Gama
IV) Cláudio Manuel da Costa

5. Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:
a) II - I - III - I
b) IV - I - II - II
c) I - II - II - I
d) I - IV - III - I
e) II - IV - III - IV

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pequena conversa sobre a mulher na poesia romântica


Um bom texto do http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/151890



1. Poesia romântica?!
2. Primeira geração
3. Segunda geração
4. Terceira geração
5. Um bom resumo


1.Poesia romântica?!
Eis aqui uma conversa informal sobre o papel da mulher na poesia romântica. E, pra começo de conversa, acho conveniente cutucar meu leitor com uma pergunta simples: o que é poesia romântica?
Todos temos uma noção intuitiva disso. Esse assunto povoa nossa mente com elementos doces. Traz em si a idéia de flores, estrelas, amores, é novela, fofura, geralmente enternece mulheres e entedia homens.
Entretanto, essa idéia que carregamos desde sempre transforma-se num grande erro quando se trata de literatura. “Romântico” no sentido literário é muito diferente de “romântico” no sentido figurado. O romantismo a que nos referimos a torto e a direito por aí não corresponde de jeito nenhum ao movimento artístico burguês do séc XIX, e, quando muito, é apenas uma face muito pequena e deformada dele.
Embora o exagero sentimental seja marca registrada, esse período literário tem outros traços, bem particulares e até estranhos para quem não conhece o movimento. Por exemplo: dizer que um escritor é romântico pode significar que ele é satânico. Ou que gosta da noite e do sobrenatural, ou que é religioso, ou que é promíscuo, indianista, medieval, burguês, ou que gosta de mulheres mortas...
Romantismo é um movimento amplo. Sua compreensão se torna mais fácil se percebermos que dentro dele cabem coisas sem relação alguma com o sentido tradicional da palavra, e, às vezes, sem aparente relação entre si.
Na verdade, falando de poetas românticos, eles são tão diversos entre si, que temos o hábito de estudá-los em 3 grupos, ou 3 gerações. Essa divisão é bem imperfeita e não serve para a prosa, mas estudá-la é uma forma de entender como o poeta romântico se comporta em cada uma dessas 3 épocas.
Interessante é observar que, a cada comportamento, existe uma forma de amar diferente e, portanto, um ideal de perfeição e beleza diferente, o que gera a necessidade de uma nova musa. Assim, da mesma forma que existem 3 gerações românticas, há 3 mulheres românticas. E convido o leitor a conversar sobre cada uma delas.

2- Primeira geração.
Na poesia da primeira geração, o amor é angelical, idealizado e –palavra-chave – cortês. Lembra bastante o trovadorismo medieval, no qual o homem é um cavaleiro e a mulher, verdadeira princesa, a mais bela dentre todas. Ela é jovem, adolescente e virgem, puríssima, imaculada. O homem dá-se por muito feliz se puder apenas cantar sua senhora, cobrir-lhe de glórias e andar seguindo seus pés, pensando nela, apenas. Mesmo no plano do pensamento, não observamos sensualidade, muito menos sexo. O amor é puro, o homem é protetor submisso, e nada de concreto se realiza entre os amantes, devido à enorme distância entre ambos. Há muita contemplação e pouca ação, como podemos perceber na estrofe de Gonçalves Dias:

"Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mi*,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi"
(...)

• Mim

3- Segunda geração
Aqui, já temos um início de sensualidade, apesar de fortemente reprimida e muito conflituosa. Ineditamente, o poeta sugere que deseja carnalmente a amada, porém, em virtude da idealização feminina extrema, ele se sente inferior e indigno de tocá-la. Por isso, Casimiro de Abreu diz:

“Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra”

De modo geral, esses poetas são perturbados. Fruto de uma época caótica, em que a humanidade viu desmancharem-se as promessas de igualdade da Revolução Francesa, eles observam a permanência das injustiças no mundo com desespero.
Preferem então fugir dessa realidade insuportável. Fazem isso de várias formas: ora lembram saudosos os momentos da infância, ora refugiam-se nos prazeres do álcool, do sexo (byronismo), ora afagam com carinho a idéia de morrer. Sim, com carinho. A Atração pela morte é uma constante na segunda geração romântica. Por isso, nem é de se admirar que seja forte, aqui, o gosto por mulheres magras, pálidas, e muitas vezes, mortas.
A segunda geração é chamada ultra romântismo ou mal-do-século. Realmente, nesse período a sociedade literária passou por uma onda de desespero e depressão que abalou seriamente a vida dos autores, rendendo muitos casos de mortes prematuras. Era raro um poeta chegar aos 30 anos.
Justamente por ser tão triste e conflituoso, o ultra romântico se reconhece um “precito”, ou seja, um maldito. E ele não quer macular sua amada virgem com isso. Assim, forte característica da geração é o medo de amar , em conflito com o forte desejo de consumar o amor. Casimiro resume bem:

“Se te fujo é que adoro e muito,
És bela- eu moço; tens amor, eu- medo!”

A moça continua virgem, porém, freqüentemente é vista seminua, desejável e inatingível. O poeta mal do século deseja aquilo que não pode ter. Então, quer esquecer, divagar no passado, beber, morrer...


4. Terceira geração.

Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica de terceira geração sem falar no poeta baiano Castro Alves. Podemos até dizer que ele responsável por uma revolução da forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição, para jogá-la, literalmente, na cama. Em C. Alves, acabaram-se as idealizações e veio, forte, a consumação erótica do amor.
Castro Alves gosta de mulheres reais: elas têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra, fazem sexo, gritam, choram. Algumas são inclusive prostitutas. O apelo sensorial é muito forte.
E o poeta dos escravos, como ficou conhecido por sua poesia social, soube transplantar para a lírica amorosa o gosto pelas imagens monumentais, tornando sua poesia ao mesmo tempo erótica e lírica, interessante, pois, até para os mais acanhados.
De modo geral, o poeta posiciona-se claramente contra os desesperos e medos ultra-românticos. Castro Alves ama a vida e gosta mesmo é de fazer amor.

"Boa noite , Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos"
(...)

5- Um bom resumo

O poema “Os três amores”, de Castro Alves, é um belo diálogo entre as 3 gerações românticas. Nele, cada estrofe corresponde a uma fase do movimento romântico: na primeira estrofe, vemos o amor cortês; na segunda, o ultra romantismo; na última, o amor sensual. Apesar de uma ou outra referência literária que o leitor pode desconhecer, o poema vale a pena ser lido. Além de belo,é um bom resumo de tudo que conversamos aqui.

I
Minh´alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora...
Sou Tasso!... a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora...
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes,
- Tu és Eleonora...

II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu, teu lânguido poeta!...
Sonho-te às vezes virgem... seminua...
Roubo-te um casto beijo à luz da lua...
- E tu és Julieta...

III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola...
Sou D. Juan!... Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha...
Eu morro, se desfaço-te a mantilha...
Tu és - Júlia, a Espanhola!...




Jéssica Callou Enviado por Jéssica Callou em 07/05/2006