sábado, 29 de março de 2014

Educação Liberal 1 - Religiões Monoteístas dominantes

Para se ir além da mediocridade (que vem de algo médio, mediano), especialmente no Brasil, onde quase não se há modelos de verdadeira cultura cosmopolita é necessário um plano de estudo, nem que seja algo básico. Por isso vou pontuar algumas coisas aqui para servirem de passo a passo.


Mês 1 - Religião.

Semana 1
Gênesis
Deuteronômio
Evangelho de João
Epístola de São João
O Corão
Semana 2
Missa Negra - John Gray (o uso político do poder da religião)
Grahan Greene - O poder e a glória (a religião em contrabalanço com a pequenez humana)
Semana 2 & 3
Uma história da Cristandade v.1&2 - Kenneth Scott Latourette

P.s. 

Filmes:
O nome da Rosa
A Rainha Margot
O lobo de Wall Street (os trejeitos do personagem de Leonardo de Caprio são tirados dos pastores avivalistas americanos) - filme não recomendado para adolescentes.
Fé demais não cheira bem
O apóstolo (c/ Robert Duvall)


No mês que vem falarei da Literatura Americana e Brasileira a partir do Romantismo. Até lá.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Análise de poemas



Um pouco do que seria nossa aula de aprofundamento:

Passos da leitura:
1. leia o poema de uma sentada - de uma vez (de preferência sonoramente, tentando pegar o ritmo)
2. procure o moto do poema - seu tema, a razão desse poema ter sido feito.
3. descubra as palavras chave.
4. descubra o conflito


Seus olhos

Seus olhos – se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! – e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Análise:
Poema lírico, de natureza romântica, a incapacidade de contemplar toda a beleza da mulher (metonímia - os olhos/a mulher, que se contrapõem à ideia da cegueira). O fogo do amor é visto também como fonte de um poder perigoso, que deveria permitir a visão, mas na verdade provoca a cegueira e até mesmo a destruição do próprio amor ou do ser amante (como é o caso). Esse fogo e brilho vem do próprio objeto do amor e não de uma divindade em separado- apontando aí para a própria mulher como divina.

palavras-chave:
olhos, chama, fogo, divino/destino, poder/alma/senti

Estilo de época: Romantismo:
idealização da mulher e do amor
divinização de mulher e do amor
a alma como sofredora dos efeitos do amor
a tristeza pela incapacidade de se ver digno do ser amado
melancolia

Relembrando os passos
Passos da leitura:
1. leia o poema de uma sentada - de uma vez (de preferência sonoramente, tentando pegar o ritmo)
2. procure o moto do poema - seu tema, a razão desse poema ter sido feito.
3. descubra as palavras chave.
4. descubra o conflito

SONETO

Perdoa-me, visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando!...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo a estação das flores!

De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...

Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora...

Sem que última esperança me conforte,
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!

Análise:
Poema lírico, de natureza romântica, uma forma exagerada de buscar a atenção da amada a qual ele primeiro recrimina acusando-se de impropriedade (desculpa), mas pontuando que sua falta de limites se dá pelo fato de sonhar o futuro com ela. A indisposição dela aos desejos do poeta são sentidas como a proximidade da morte - o poeta avisa que por causa dela está perdendo seus melhores anos (minha aurora - metáfora para a juventude)

palavras-chave:
suspirando/desmaiando, dor, morrer, noturna, delirando, febre

Estilo de época: Romantismo (ultra-romantismo)
a contraposição entre amar e morrer
a alma como sofredora dos efeitos do amor
melancolia e o desejo de morte
amor como febre, delírio, desvario
a indicação que o poeta morrerá jovem ainda (prenúncio heroico)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Por que Ela, de Spike Jonze, é um filme tão significativo para a nossa geração?


kibado do http://pensarenlouquece.com/porque-ela-spike-jonze-filme-significativo-nossa-geracao/#more-5686
O ideal de todo cinéfilo deveria ser a oportunidade de assistir a um filme sabendo o menos possível a respeito de sua história. Página em branco, sem expectativas, mergulhando em uma trama e envolvendo-se com ela feito como uma criança que tateia objetos desconhecidos à sua volta, encantando-se com cada nova descoberta.
Este post não será uma resenha. Afinal, há dezenas de textos comentando a história do filmedirigido e roteirizado por Spike Jonze, com atuações de Joaquim Phoenix, Scarlett Johansson, Amy Adams, Rooney Mara e Olivia Wilde. Aqui, me limitarei a compartilhar algumas ideias, impressões e relações que fiz após ver uma obra repleta de entrelinhas para serem discutidas. E recomendo, aliás, que você só leia este post após ter visto Ela.
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Tudo na vida é uma questão de expectativas. Eu, admito, já cometi o equívoco de construir uma imagem idealizada de uma pessoa que conheci online: foi o efeito colateral após ver algumas fotos e trocar mensagens espirituosas, sagazes, maliciosas. Nem sempre a química virtual se repete na vida offline, mas ao analisar retrospectivamente esse encontro mal-sucedido, hoje sei que talvez as coisas tivessem sido diferentes caso não tivéssemos alimentado expectativas desmedidamente juvenis de uma pessoa pela outra.
Mas enfim, citando um diálogo de Ela, o fato é que o passado é apenas uma história que contamos a nós mesmos. Com o passar dos anos, lembranças tendem a ser idealizadas e nossas recordações paulatinamente tendem a ser recriadas de acordo com os desígnios nem sempre conscientes de nossa memória seletiva.
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Há muitos anos assisti a um episódio de Star Trek no qual os tripulantes da Enterprise se deparam com um ser sem corpo físico. Quando esse ser descobre como é a condição humana, ele lamenta por nós: “Tenho pena de vocês, humanos. Deve ser muito triste viver com essa limitação física.”
Creio que a frase era mais ou menos assim. Memória às vezes prega peças na gente.
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Ano passado li uma notícia que me deixou perplexo: “Por que os jovens japoneses pararam de fazer sexo?”. Um dos dados citados nesta matéria do The Guardian é uma pesquisa, realizada em 2013 pela Associação Japonesa de Planejamento Familiar, segundo a qual 45% das mulheres de 16 a 24 anos não demonstravam nenhum interesse em contato sexual, assim como cerca de 25% dos homens entrevistados.
Outra matéria sobre o Japão, publicada no site da BBC, também fala dessa geração de japoneses denominada de “herbívora”, por ser passiva e sem desejo carnal. Um dos entrevistados, que tem uma namorada virtual em um jogo da Nintendo, deu uma declaração bastante significativa: “Na escola, você pode ter relacionamentos sem pensar sobre casamento. Com namoradas de verdade você precisa sempre considerar se vai casar. Então eu penso duas vezes antes de namorar uma ‘mulher 3D’.”
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Em uma entrevista a Conan O’Brian, Louis CK fez um desabafo antológico sobre como os avanços tecnológicos estão nos tornando cada vez mais mimados. Ele relata a história de uma viagem que fez em um avião equipado com internet a bordo. A conexão, porém, caiu no meio do voo. Um comissário a bordo pediu desculpas pelo ocorrido, e um passageiro sentado a seu lado reclamou: “Pfff… Isso é conversa fiada.” Louis CK cita outras reclamações corriqueiras sobre motivos como atrasos de voos e poltronas que não reclinam, e dispara:
Atraso, sério? Nova York até a Califórnia em 5 horas? Costumavam fazer esse trajeto em 30 anos, e um monte de gente morreria nesse período ou teria filhos. Você estaria com um grupo totalmente diferente de pessoas quando chegasse lá! Agora você assiste a um filme, solta um barro e está em casa! Todo mundo, em todos os aviões, deveria ficar constantemente falando: ‘Oh meu Deus! Uau!’ Você voou pelos ares como um pássaro, você fez parte do milagre de humanos voando! Você está sentado em uma cadeira no céu! Voando! É fantástico!
Vivemos tempos fantásticos, mas as pessoas parecem nunca estar satisfeitas – vide a timeline do Twitter, aquele mural de muxoxos e mimimis sem fim. Queixam-se do trabalho, de relacionamentos, do que está passando na TV (como se estivesse sob a mira de um revólver que os obrigue a ver determinado programa), das pessoas que seguem (afinal, dar unfollow é algo muito difícil de se fazer)… Neste mundo de expectativas irreais, em que ideais de beleza são esculpidos com photoshopadas inatingíveis e a timeline do Facebook é povoada por versões artificiais de nossas próprias vidas, com fotos instagramadas postadas para angariar likes alheios, como encontrar satisfação?
Viver bem é a fina arte de gerenciar expectativas.
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Amar é se interessar pelo outro, querer saber o que ele fez, compartilhar ideias, impressões, coisas tristes e engraçadas que aconteceram durante a trajetória de um dia: é a parte verbal do amor, o entrosamento intelectual que independe da atração física. Mas amar também é compartilhar silêncios ou suspiros; é a intimidade que faz com que nos sintamos confortáveis na presença do outro prescindindo de palavras.
Amor platônico é um amor que desconhece imperfeições. Não existe mau hálito, sexo ruim, crises de ciúmes, chulé, discussões por causa de pia suja ou tampa de privada, DRs. Por existir somente no plano dos sonhos e pensamentos, costumo definir amor platônico como um amor que só é vivido do pescoço para cima.
Já Charlie Kaufman, roteirista de dois filmes dirigidos por Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich e Adaptação), cunhou uma definição menos edificante: “O amor nada mais é do que um agrupamento bagunçado de carência, desespero, medo da morte, insegurança sobre o tamanho do pênis e a necessidade egoísta de colecionar o coração de outras pessoas.”
Definições, todavia, são tentativas de se explicar algo que vai muito além das palavras. E o fato é que amar não é para amadores. Joseph Campbell, em O Poder do Mito, cita o budismo ao afirmar que o amor é o ponto de combustão da vida. Como a vida é dolorosa, assim também é o amor. Amar é correr riscos. Ou, citando outro diálogo certeiro de Ela, uma maneira socialmente aceitável de insanidade. Seja amando um homem, uma mulher, um dos mais de 50 gêneros além de masculino e feminino que agora podemos escolher no Facebookou, quem sabe em um futuro a curto prazo, um sistema operacional.
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