segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
As Cidades medievais
"As cidades medievais eram superlotadas, barulhentas, escuras e tinham cheiro de estábulo. Só as ruas mais largas eram pavimentadas; as outras eram sujas, com esterco e lama. Na maioria are apenas vielas estreitas onde não se podia passar com duas mulas sem derrubar os quiosques dos vendeiros ou os toldos e tabuletas dos que anunciavam seus serviços.
De dia, as ruas ficavam apinhadas de gente: ferreiros, sapateiros, vendedores de tecido, açougueiros, dentistas... Bastava o comerciante abrir as venezianas de sua casa para transformá-la numa banca de mercadoria. Ficavam também cheias de animais: cães, mulas, porcos, cavalos, galinhas... À noite, eram silenciosas e muito escuras: não havia iluminação pública. Era comum toque de recolher decretado pelas municipalidades, como prevenção contra assaltos e assassinatos.
Nas cidades medievais ocorriam castrações, enforcamentos e amputações, e a população aglomerava para assistir aos espetáculos de castigo. Muitas vezes os criminosos eram arrastados pelas ruas numa carroça e torturados antes da execução pública, sob o burburinho e os gritos das multidões.
Eram freqüentes, também, os incêndios. As casa, de três ou quatro andares, eram construídas de materiais inflamáveis: paredes de madeira e galhos e tetos de palha ou junco, que ardiam em poucos minutos. Se por um lado os incêndios geravam prejuízos para os moradores, por outro era benéfico, pois amenizava as condições de sujeira que provocavam as doenças.
Apesar de existirem hábitos de higiene pessoal, como o costume de freqüentar os banhos públicos, preservados desde a época de Roma, só os ricos tinham as suas próprias latrinas e fossas. A maioria da população jogava seus excrementos em esgotos ou em pilhas de detritos a céu aberto, tornando as vielas imundas, o mau cheiro insuportável e as águas de abastecimento da cidade poluídas.
A canalização da água não era recomendada pelas oficialidades, que temiam a desvantagem de tornar as cidades vulneráveis a sabotagens de exécitos inimigos. Só em 1236, Londres começou a trazer água para a cidade em aquedutos.
Uma das soluções adotadas para reduzir a sujeira foi a pavimentação das ruas. Paris, em 1185, foi a primeira cidade a ter suas ruas calçadas com pedras.
Mais ainda do que os excrementos humanos e a água suja, a maior maldição das cidades medievais era a pulga, o parasita do rato negro. As epidemias eram freqüentes e, de 1348 a 1349, as pulgas espalharam a peste bubônica, conhecida como a peste negra, provocando milhões de mortes."
(Clark, Peter. O Ocidente renasce. In: Evolução das cidades. Rio de Janeiro, Abril Livros/ Editora de Time-Life, 1993, p.98-102 (texto adaptado)
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Arcadismo
Primeiro uma pequena aula sobre Espinosa
Em texto
http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=618
Agora eu gostaria que vocês ligassem Espinosa ao Arcadismo nas seguintes características:
Em texto
http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=618
Agora eu gostaria que vocês ligassem Espinosa ao Arcadismo nas seguintes características:
- Deus Sive Natura (Panteísmo) ou seja, Não se precisa mais encontrar Deus na igreja, Ele é/está na Natureza.
- A razão é a única coisa em que se pode confiar - A fé cristã passa a ser conhecida como superstição.
- Cada um deve ter a liberdade de ser o que quiser ser.
Imagine que isso ainda é debaixo da Época Barroca, por isso Espinosa acaba sendo excomungado.
Mesmo assim ele passa a comunicar-se com pessoas de toda a Europa através de cartas e influencia toda a geração futura (Arcadismo)
O mais importante de se saber do Arcadismo são as características e os autores.
Características da linguagem árcade
Além das características da linguagem árcade estudadas, outras merecem destaque:
fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.
aurea mediocritas (vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais): outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade
idéias iluministas: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso, idéias do Iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e combateram o Absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da maioria dos poetas árcades, idéias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em alguns textos da época.
convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso mantém-se o distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.
carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível tema já bastante explorado pelo Barroco - é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso.
Como síntese do que foi estudado até aqui, podemos esquematizar as principais características da linguagem árcade deste modo:
QUANTO À FORMA | QUANTO AO CONTEÚDO |
Vocabulário simples | Pastoralismo |
Frases na ordem direta | Bucolismo |
Ausência quase total de figuras de linguagem | Fugere urbem |
Manutenção do verso decassílabo, do soneto e de outras formas clássicas | Aurea mediocritas |
Elementos da cultura greco-latina | |
Convencionalismo amoroso | |
Idealização amorosa | |
Racionalismo | |
Idéias iluministas | |
Carpe diem |
A palavra arcádia, que dá origem a Arcadismo, é grega e designa uma sociedade literária típica da última fase do Classicismo, cujos membros adotam nomes poéticos pastoris, em homenagem à vida simples dos pastores, em comunhão com a natureza.
As manifestações da estética arcádica começam a ocorrer no Brasil na segunda metade do século XVIII, mais precisamente em 1768, quando Cláudio Manuel da Costa publica Obras. A atividade mineradora - já intensa desde 1700 - determina mudanças na organização e na dinâmica da vida brasileira. Há um aumento considerável na circulação de mercadorias e uma dinamização das regiões que abasteciam de gado as Minas Gerais (Sul e Nordeste). Com o crescimento das cidades, surgia no Brasil o trabalho não-escravo, desvinculado das atividades agrícolas e da mineração. Eram artesãos, burocratas, profissionais liberais, literatos.
O espírito iluminista
Era o esboço de uma classe mediana que, disposta a defender seus próprios interesses, adotou a ideologia liberal burguesa vinda da França: o Iluminismo. A difusão do pensamento iluminista que apregoava a liberdade de propriedade e a igualdade de poderes, criticando o estado absolutista, tinha as suas palavras de ordem: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Em 1789, esse espírito culminou na Revolução Francesa, que modificou o conceito de classe social trazendo ao topo do poder os burgueses.
Árcades ilustrados
Em Vila Rica, atual Ouro Preto, a antiga capital da Capitania das Minas Gerais, um grupo teve especial importância na divulgação do Iluminismo - o "grupo mineiro" -, composto por intelectuais que se reuniam em torno de ideais semelhantes, pelo menos quanto ao pensamento de que a Metrópole Portuguesa era tirânica em relação à Colônia, que se encontrava usurpada em relação às suas riquezas.
"Escola Mineira"
Seis poetas constituem a chamada "Escola Mineira": Frei José de Santa Rita Durão, José Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Manuel Inácio da Silva Alvarenga. Com os olhos voltados para a terra natal, esses poetas árcades iniciaram o período de transformação da literatura brasileira, que se vai efetivar, realmente, no século XIX, com os românticos.
Características do Arcadismo
O desejo da natureza, a realização da poesia pastoril, a reverência ao bucolismo são traços mercantes da literatura arcádica, disposta a fazer valer a simplicidade perdida no Barroco.
Fugere urbem
A base material do progresso consubstanciava-se nas cidades. Mudava o mundo, modernizavam-se as cidades e, consequentemente, redobravam os problemas dos conglomerados urbanos. A natureza acenava com a ordem nos prados e nos campos, os indivíduos resgatavam sentimentos roídos pelo progresso. Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
Abaixo o exagero: inutilia truncar
A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco. Por isso, outros modelos eram buscados pelos árcades: paradigmas clássicos e renascentistas, que significavam a simplicidade e o equilíbrio.
Neoclassicismo
Nessa disposição de coisas é que se revela a outra tendência árcade - o Neoclassicismo. Seguindo o exemplo da Arcádia Romana (agremiação italiana fundada em 1690, imitada pela Arcádia Lusitana, fundada em 1756), os poetas árcades elegeram como ideais as condições de criação que supunham ser as dos poetas-pastores que habitavam a legendária Arcádia, região da Grécia. São, portanto, neoclássicos na busca da espontaneidade e da simplicidade.
Pseudônimos pastoris
Fingir que são pastores foi a saída encontrada pelos árcades para realizar (na imaginação) o ideal da mediocridade dourada (aurea mediocritas), ou seja, as louvações à vida equilibrada, espontânea, pobre (em contato com a natureza).
Carpe diem
Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por esses poetas - pastores, cuja noção de que "o tempo não pára e por isso deve ser vivido em todos os sentidos" era muito forte.
Arcadismo em Portugal (1756-1825)
Com a fundação da Arcádia Lusitana, em 1756, iniciou-se uma nova etapa literária em Portugal, caracterizada pela rebeldia contra o Barroco. Sua divisa - inutilia truncar - atestava o desejo de repúdio às coisas inúteis, característica marcante da poesia barroca.
Simplicidade da arte renascentista
A Arcádia Lusitana teve por base a Arcádia Romana, fundada na Itália em 1690, cuja tentativa foi restabelecer a simplicidade da arte renascentista e antiga. A Arcádia Lusitana estiveram ligados, entre outros, os poetas Antônio Dinis da Cruz e Silva (um de seus fundadores), Pedro Antônio Correia Garção, também doutrinador do movimento.
Nova Arcádia
Em 1790, foi fundada a Academia de Belas Artes, logo após denominada Nova Arcádia que, três anos mais tarde, publicava algumas obras poéticas de seus sócios, sob o título Almanaque das Musas. Os membros mais importantes dessa associação foram o brasileiro Domingos Caldas Barbosa, famoso nos ambientes aristocráticos por sua obra lírica, o poeta satírico Padre Agostinho de Macedo e o poeta lírico e satírico Manuel Maria Barbosa du Bocage.
Arcadismo no Brasil (1768-1836)
O rompimento com a estética cultista barroca começou no Brasil com a publicação das Obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. O movimento árcade permaneceu como tendência literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.
Árcades mineiros
Não existiu, no Brasil, uma Arcádia, como em Portugal. Um vigoroso grupo intelectual - o "grupo mineiro" - destacou-se na arte literária e na prática política, participando ativamente da Inconfidência Mineira. Esse grupo, constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Manuel Inácio da Silva Alvarenga e outros intelectuais, foi desfeito de forma violenta, com a prisão, desterro ou morte de alguns poetas, à época da repressão política em torno do episódio da Inconfidência.
Bucolismo e poesia política
Cláudio Manuel da Costa foi o primeiro modelo e o mais forte de todos para os poetas mineiros. Influenciou significativamente Tomás Antônio Gonzaga, de quem era o "amigo mais velho". Cláudio, considerado o mais árcade dos poetas do grupo, teve uma formação rigorosamente clássica. A sua poesia bucólica focaliza, sobretudo, a paisagem montanhosa de Minas Gerais. Alvarenga Peixoto, um dos poetas "ilustrados", construiu uma obra bem marcada pelo seu aspecto político, em defesa da República, contra a guerra e em prol dos escravos. Silva Alvarenga, por sua vez, tem uma obra lírica plena de musicalidade.
Características do Arcadismo brasileiro
A tentativa de imitar o Arcadismo português, para dar à Colônia uma literatura tão sofisticada quanto aquela que se produzia na Metrópole, resultou na poesia refinada dos árcades mineiros.
Apego aos valores da terra
A simplicidade na poesia e a idéia de abolir as inutilidades (inutilia truncat) foram, também, objetivos dos árcades brasileiros. O ambiente peculiar oferecido pela localização geográfica do "grupo mineiro" fez brotar um nativismo que incorporou os valores da terra ao ideário da estética bucólica, em voga no Arcadismo. Emerge a natureza brasileira como pano de fundo para a poesia dos "pastores".
Incorporação do elemento indígena
A valorização do índio foi importante no Arcadismo brasileiro: ele reflete o ideal do "bom selvagem", tão caro aos iluministas (o pensamento de Rousseau baseado na premissa de que a natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade o corrompe e o transforma). A incorporação do índio como elemento literário dará um colorido diferente do europeu ao Arcadismo brasileiro.
Sátira política
A redação e a circulação de manuscritos anônimos (as Cartas Chilenas) de nítida sátira política aos tempos difíceis da exploração portuguesa e à corrupção dos governos coloniais, foi elemento bem distinto do Arcadismo brasileiro. A tomada de consciência política do "grupo mineiro" foi sem precedentes na história do Brasil. Impulsionados pelo exemplo da independência norte-americana e da Revolução Francesa, todos os elementos componentes do grupo participaram da Conjuração Mineira, que acabou em 1789.
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